quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Na moita

                   "Ei, eu me aposentei dessa vida
                     E dirijo empresa de sonhos.”
                                             Zélia Duncan
  

                                                         

       Pois é. Passaram-se semanas, desde que foi divulgado que meio milhão de estudantes zeraram a redação do ENEM. Fui um dos que ficaram estarrecidos. A que ponto chegamos? Mas, o que importa aqui é o efeito sobre mim. Eu, que tenho um diploma de professor engavetado. Poderia fazer valer o meu investimento financeiro e intelectual. Mas não. Resignei-me a permanecer na zona de conforto que se resume a uma dignidade anônima e egoísta. É por egoísmo que não me torno um ser ativo e altruísta nessa vida. Gritos na infância, trauma não superados enfim são fatos tão distantes... o futuro é ontem. Para que remoer pesares tão, tão desnecessários? Que importa o passado que já se tornou pretérito mais que perfeito?  Fico a saborear o fel que eu mesmo produzo e o pior me espera. Esse pior que emana de mim. Leio livros, vejo filmes, telenovelas, revistas importantes para não saber o que fazer com o que vi? Como a lua que não possui luz própria assim eu sigo. E a vida cobra com juros altos. Há os olhares de dúvida e pena: Mas o que esse sujeito faz que não... ?

      A minha falta de objetivo. Pois só me interesso pela representação. Os Titãs voltaram com tudo. Crítica social e o bom e velho rock and roll. Ai sim. Aquele conto do André Sant’Anna. Que olhar crítico e sagaz sobre a realidade brasileira! Narrado de forma original e desconcertante por causa da repetição. Admiro sua literatura. E aquele filme do Lars Von Trier de 200... nossa Lars, pois é dessa forma mesmo que vejo a humanidade. Mas, vez em quando vem alguém pedir minha opinião sobre o petrolão, sobre o doleiro, o eureiro sei lá que PORRA mais. E tento ter uma posição crítica acerca disso e daquilo. Que adianta? Agora se eu pensasse mesmo no semelhante, iria mesmo cumprir a docência que existe pra isso: educar, formar cidadãos letrados e dignos. Tarefa hercúlea, no entanto conheço pessoas admiráveis que ainda se empenham nisso. Estas, tem o meu respeito e admiração. Até me imagino trabalhando na sala de aula os clássicos como Vidas Secas do Graciliano, o Senhora do José de Alencar, alguns contos clariceanos, e também os contemporâneos, tem tanto escritor bom, como o já citado André Sant’Anna, o moçambicano Mia Couto, o Marcelino Freire, o Roberto Muniz Dias, o Bernardo carvalho, enfim tem-se uma variedade de gêneros e estilos a perder de vista. E porque raios não levo aos jovens a ter contato com essas leituras? Ah sim. A minha estupidez. Esqueci que fui adolescente um dia. Na minha época não tinha tanto obstáculo pra leitura como hoje. Mas professor é para orientar que os alunos não se distraiam tanto com as futilidades do mundo capitalista e competitivo. Professor. Eu? Ainda sem condições para isso.  

2 comentários:

  1. Querido Eduardo.

    Obrigado pela citação do meu trabalho.
    A docência é um chamado, é uma vocação.
    Sempre pensei que professores fossem dotados de alguma magia, alguma diferença. E são. São sobreviventes de um sistema que vilipendia esta categoria. Explicações históricas e diversas podem dar conta desta desvalorização. Mas não podemos deixar de exercer a responsabilidade deste chamado; há tantas frentes nas quais podemos atuar...Seu blogue é uma delas.
    Parabéns!

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  2. Querido Eduardo.

    Obrigado pela citação do meu trabalho.
    A docência é um chamado, é uma vocação.
    Sempre pensei que professores fossem dotados de alguma magia, alguma diferença. E são. São sobreviventes de um sistema que vilipendia esta categoria. Explicações históricas e diversas podem dar conta desta desvalorização. Mas não podemos deixar de exercer a responsabilidade deste chamado; há tantas frentes nas quais podemos atuar...Seu blogue é uma delas.
    Parabéns!

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