Domingo. Evito sair de casa e
sempre uso a desculpa dos estudos. Tinha um convite pra ir a um bloco
carnavalesco. Pensava em mil desculpas pra pular fora e ao comentar com meu
irmão ouvir um ultimato: - Meu, vai viver! Sai de casa. Tu só vai a tua
reunião budista. Fui. Era a Banda do Fuxico, o bloco de carnaval da comunidade
LGBT, há anos não saia em algo do tipo.
Logo ao chegar, juntamente com os poucos
amigos, adentramos as proximidades do trio elétrico que ainda estava parado.
Faziam-se as homenagens aos militantes da causa LGBT. Pouca atenção dei aquilo
tudo: drag- queens batendo cabelo, famosos discursando em prol da diversidade
sexual. Aliás, esses eventos sempre destoam do real intuito, que é mostrar aos
demais cidadãos que existimos e temos os mesmos direitos. Na verdade, eventos
como paradas e afins, são vistos apenas como uma grande festa. Uma mera ocasião
para festejar quem se é. A parte do discurso, onde os militantes relatam a luta
para alcançar a própria realização do evento, passa batido para a maioria dos
presentes ali. Até porque, mostrar dignidade e lutar pelos objetivos são coisas
pra fazer diariamente. O problema é que desse modo, a coisa (causa LGBT), é
feita individualmente. Para uma causa surtir efeito benéfico em grande escala, é necessário
uma grande união. Não é o que se vê no mundo LGBT: A própria categoria por si
só, apresenta em comum somente a orientação sexual. Creio que militantes mesmo,
são muito poucos.
Quando o trio começou andar, entrei no
clima sob o embalo das marchinhas antigas. Veio a primeira cerveja, a
segunda... , depois fui de batida-sei-lá-do quê. Fui. A música agora bradava: “extravasa
libera tudo” As gay todas colocadas. Todas multicolores, lindos... E o efeito da cerveja e a fumaça do cigarro
inseparável. Já não sei mais o que digo, se já não me lembrava de mais nada.
Evitei o vinho batizado, pois certa vez cai de boca, no vinho, e nas
mangueirinhas de licor... jurupinga também? Perdi o RG, e sobrava uma vaga
noção de quem era eu. Conseguira chegar em casa e ouvi a bronca do irmão. O
mesmo irmão que me disse: - Meu, vai viver! Por isso, não extravasei tanto
dessa vez. Longe de mim dar trabalho aos outros. E também não fica bem chegar a
tal ponto. Dizem que sou todo certinho! Não quero também me corromper aqueles,
que acham que podem escandalizar a torto e a direito. Sou mais eu. Mas,
aproveitei bastante o Fuxico.
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