Sally Hawkins em cena de A forma da água |
Sem dúvidas, o filme
A forma da água é um dos melhores entre os que concorrem ao Oscar desse ano.
Foi essa produção que trouxe de volta o prestígio de Guillermo Del Toro,
anteriormente em baixa devido a produções fracas e esquecíveis como A colina
escarlate. Em A forma da água, Del Toro apresenta elementos sempre presentes em
sua filmografia, como o apreço por monstros, a exemplo de seu filme mais
cultuado: O labirinto do fauno. No indicadíssimo ao Oscar, acusado de plágio e
ousado por conter um certo erotismo “The shape of water” ou em português mesmo, A forma da água, há uma
criatura que podemos chamar de homem- peixe (?), que fora capturada pelos americanos
na Amazônia, nessa história que se passa na época da Guerra fria, onde os Estados
Unidos e a Rússia viviam sob forte e
bélica rivalidade.
Em meio a tensão
desse período, uma faxineira muda, interpretada por Sally Hawkins se sentirá atraída pelo “monstro”, já que este também não
fala e seria tido como uma aberração pela sociedade, sempre preocupada em
dominar o mundo e a própria natureza, ou seja, desse modo para o “homem-peixe”,
ninguém, exceto os profissionais que estudam essas espécies, poderia nutrir
alguma simpatia por tal “monstro”. Todavia,
a curiosidade de Elisa, a faxineira vivida por uma inspirada Sally Hawkins,
resvala para o mais puro dos sentimentos: o amor. Doravante ela lançará meios
de interação (apenas com a linguagem de sinais) com o “monstro”, centro da
disputa entre um sádico segurança americano, interpretado magistralmente por
Michael Shannon e o cientista Bob – Dimitri interpretado por Michael Stuhlbarg,
este também em boa atuação. No decorrer da narrativa, o espectador perceberá
quem realmente é o monstro, ou seja, óbvio que menos uma espécie de homem-
peixe que uma própria criatura ciente que fora feita “a imagem e semelhança do
Criador”, como fala o prepotente e ameaçador personagem de Michael Shannon às faxineiras Elisa e Zelda, personagem de Octavia Spencer, o típico personagem que Octavia costuma
interpretar: falastrona, amigável e com um quê de comicidade, esta, é amiga de
Elisa assim como o vizinho da mocinha: Giles, vivido por Richard Jenkins.
Impressiona como nessa
fábula, onde temos uma criatura desprovida do que é belo, ao mesmo tempo possua
uma imensa beleza presente tanto na entrega da personagem de Sally,
merecidamente indicada ao Oscar de melhor atriz, como na fotografia composta
por tons de verde ou azul, bem como o fiel retrato dos anos sessenta personificado nos carros, na arquitetura, no vestuário
e tudo o mais. Além da trilha sonora ser um deslumbre! Contando até com uma
canção de Carmem Miranda. Convém ressaltar que o mais belo em A forma da água é
a atuação de Sally Hawkins, que lança mão de uma expressividade absurda munida
apenas de gestos, expressões e do semblante sonhador e amoroso com que conduz
seu romance até o fim dessa fábula. Sally já havia sido indicada ao Oscar de
melhor atriz coadjuvante por Blue Jasmine, agora conseguiu um papel em que seu
talento foi comprovado, uma vez que em outros filmes era geralmente
subaproveitado. Ela merece vencer na categoria de melhor atriz. E claro, Del Toro realizou um filme completo: uniu realidade e fantasia expondo virtudes e fraquezas humanas de uma maneira em que tudo se encaixe seja nas cenas que tematizam a guerra fria ou no cotidiano da sublime Elisa.