sábado, 27 de janeiro de 2018

A forma da água

Sally Hawkins em cena de A forma da água
   Sem dúvidas, o filme A forma da água é um dos melhores entre os que concorrem ao Oscar desse ano. Foi essa produção que trouxe de volta o prestígio de Guillermo Del Toro, anteriormente em baixa devido a produções fracas e esquecíveis como A colina escarlate. Em A forma da água, Del Toro apresenta elementos sempre presentes em sua filmografia, como o apreço por monstros, a exemplo de seu filme mais cultuado: O labirinto do fauno. No indicadíssimo ao Oscar, acusado de plágio e ousado por conter um certo erotismo “The shape of water” ou em  português mesmo, A forma da água, há uma criatura que podemos chamar de homem- peixe (?), que fora capturada pelos americanos na Amazônia, nessa história que se passa na época da Guerra fria, onde os Estados Unidos  e a Rússia viviam sob forte e bélica rivalidade.
   Em meio a tensão desse período, uma faxineira muda, interpretada por Sally Hawkins se sentirá  atraída pelo “monstro”, já que este também não fala e seria tido como uma aberração pela sociedade, sempre preocupada em dominar o mundo e a própria natureza, ou seja, desse modo para o “homem-peixe”, ninguém, exceto os profissionais que estudam essas espécies, poderia nutrir alguma simpatia por tal “monstro”.  Todavia, a curiosidade de Elisa, a faxineira vivida por uma inspirada Sally Hawkins, resvala para o mais puro dos sentimentos: o amor. Doravante ela lançará meios de interação (apenas com a linguagem de sinais) com o “monstro”, centro da disputa entre um sádico segurança americano, interpretado magistralmente por Michael Shannon e o cientista Bob – Dimitri interpretado por Michael Stuhlbarg, este também em boa atuação. No decorrer da narrativa, o espectador perceberá quem realmente é o monstro, ou seja, óbvio que menos uma espécie de homem- peixe que uma própria criatura ciente que fora feita “a imagem e semelhança do Criador”, como fala o prepotente e ameaçador personagem de Michael  Shannon às faxineiras Elisa e Zelda, personagem de Octavia Spencer, o típico personagem que Octavia costuma interpretar: falastrona, amigável e com um quê de comicidade, esta, é amiga de Elisa assim como o vizinho da mocinha: Giles, vivido por Richard Jenkins.

   Impressiona como nessa fábula, onde temos uma criatura desprovida do que é belo, ao mesmo tempo possua uma imensa beleza presente tanto na entrega da personagem de Sally, merecidamente indicada ao Oscar de melhor atriz, como na fotografia composta por tons de verde ou azul, bem como o fiel retrato dos anos sessenta  personificado nos carros, na arquitetura, no vestuário e tudo o mais. Além da trilha sonora ser um deslumbre! Contando até com uma canção de Carmem Miranda. Convém ressaltar que o mais belo em A forma da água é a atuação de Sally Hawkins, que lança mão de uma expressividade absurda munida apenas de gestos, expressões e do semblante sonhador e amoroso com que conduz seu romance até o fim dessa fábula. Sally já havia sido indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Blue Jasmine, agora conseguiu um papel em que seu talento foi comprovado, uma vez que em outros filmes era geralmente subaproveitado. Ela merece vencer na categoria de melhor atriz. E claro, Del Toro realizou um filme completo: uniu realidade e fantasia expondo virtudes e fraquezas humanas de uma maneira em que tudo se encaixe seja nas cenas que tematizam a guerra fria ou no cotidiano da sublime Elisa.