sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Hermética? Que nada!

A leitura de um romance de Clarice Lispector proporciona uma viagem a um lugar profundissimamente extraordinário:  A nossa alma. O tempo imprevisível, os fragmentos, a linguagem irônica e a ânsia por escrever algo “adivinhado” em pleno momento em que se escreve resulta numa busca pela essência da própria vida. O que somos?  Como somos vistos? Por que morremos?
        Muitos não conseguem entender a literatura de Clarice, apesar da mesma usar uma linguagem simples. Para esses leitores uma leitura estimulante deve conter no mínimo fatos. Fator ausente no romance clariceano, uma vez que a autora mesmo criando personagens  com suas peculiares características, o que prevalece são as suas impressões existenciais. A realidade adivinhada. O pensamento sagaz. As agonias que insistem em surgir em momentos de pura contemplação provocando uma revolução no que estava “falsamente” sob controle.
          Imagino que a “pessoa” Clarice Lispector fora muito sozinha. Seus livros são perturbadores à medida em que lemos passagens sobre “O deus”, sobre as várias vezes em que se morre e também quando Clarice criou uma das suas personagens mais emblemáticas: Macabéa, que mal tinha consciência de existir. São aspectos que revelam “um olhar diferenciado”  sobre o ser humano  e sobre a própria linguagem. Clarice transborda poesia pura em muitos excertos. Fruto da sua alma sensibilíssima e inquieta em decifrar o que há em nossos recônditos.
           É necessário várias leituras de um romance clariceano. Qual profundo é o mergulho nos “estados d’alma” que Clarice proporciona. Não que a autora fosse alheia à realidade, longe disso. Na verdade Clarice internaliza os acontecimentos de maneira a “cavar” o cerne dos mesmos. Qual a razão disso? Então é assim? Nas palavras da própria: “não há pessoas que costuram para fora? Eu costuro para dentro”.
  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Quem sabe  ainda sou uma garotinha...

         Dona de uma voz delicada e de um rostinho de porcelana, Sandy Leah lançou no final de outubro, seu EP composto por cinco músicas:  Princípios, Meios e Fins. Esse trabalho, segundo a própria Sandy ,era pra acabar resultando num álbum completo, entretanto Sandy optou por lança-lo em forma de EP, devido as primeiras faixas refletirem fielmente o estado em que a  “ gracinha” da cantora se encontra. E ter saído a contento para a mesma.
          A primeira amostra desse trabalho é a faixa “ Aquela dos trinta”, uma boa escolha pra divulgar o trabalho.  Na letra, Sandy  canta sobre o tempo  de uma forma divertida e com um refrão que corrobora com sua imagem de eterna musa adolescente. Isso mesmo, apesar da moça ter feito comercial de cerveja e de ter dado declarações polêmicas à revista Playboy, Sandy possui como marca pessoal  o talento para cantar coisas românticas, delicadas... Pelo timbre de sua voz e por sua persona física mesmo.  Claro, ela é humana, por isso há esse outro lado em que ela se expõe de maneira mais “devassa”.  É o tempo mesmo. Como bem discorre ela na música “Aquela dos trinta”.
           Apesar  de Sandy evidenciar seu talento na música sempre com essa brandura nas letras e na voz,  as más línguas não perdem a oportunidade de fazer piadas quando surge alguma oportunidade. A última delas foi por causa do nome da musa ser o mesmo do furacão que devastou Nova York. Sandy, é um nome comum nos EUA. Claro que muitas pessoas, são daqueles que “perdem o amigo, mas não perdem a piada”. Ossos do ofício de ser uma pessoa  famosa. Não é Sandy?

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mais um pretexto

          Férias. Para a maioria é uma época de viagens e curtição. Descidas á serra, visita aos parentes distantes e tantas outras coisas que não podemos fazer em outro período que não seja esse. A mim, não significará isso. Viagens? Só se for ao meu subconsciente. Lugar totalmente desabitado de ideias e grandes aspirações. É pra lá quer tenho que ir. Sinto isso. "Conhece-te a tí mesmo". Disse o filósofo. Se grande parte das pessoas fizesse isso, ou tentasse ao menos, não viveríamos numa época tão medíocre.
          É claro que não limitarei-me a refletir e a fazer planos para o ano novo.  Planos que não ultrapassa o segundo dia do ano. Depois esqueço tudo que havia prometido. Parar de fumar. Estudar mais. Ser mais comunicativo. Doar- me mais `a vida que não seja só a que circunda minha mente de amendoim japonês do Paraguai. Afinal, haja promessa e negativismo em mim. Mas agora será diferente... espero de verdade chegar ao ponto que me leve ao esclarecimento e encorajamento pra agir. E fazer diferente.
          Farei uma faxina interior e no meu lar cheio de quinquilharias. E nos intervalos ouvirei cds antigos e lerei livros comprados a anos atrás. Certamente encontrarei objetos perdidos que tanto procurei outrora. Não devo esquecer de estudar o Budismo que tem sido o pilar dos meus dias. Sidarta Gautama renunciou a uma vida de riqueza pra encontrar a razão do sofrimento. E ele conseguiu, não só as resposta para isso: Ele conseguiu a sua "iluminação". Estado pleno de realização e grandeza da vida. Corpo e espírito. Enquanto eu travo uma luta pra sair da rotina. Ai vícios enfadonhos. A distração que traz o inesperado que nos vislumbra.
          Lógico que Clarice Lispector será minha companhia preferida nesse período de meditação e busca de sí mesmo. Eu que não aguento mais ser tão ensimesmado. Vou até explorar-me ao máximo pra ver se há outros de mim. E espero que sejam mais corajosos e livres como um cavalo novo igual ao da Clarice. Isso mesmo: Quero chegar ao mais próximo que conseguir do meu coração selvagem da vida minha.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Canta Brasil!


                

               Foi necessário a exibição de um programa televisivo em busca de uma nova voz, para que os telespectadores tivessem contato com a nossa MPB. Sim. A edição brasileira do The Voice proporcionou belos momentos não só aos participantes, mas àquelas pessoas que ficam em casa assistindo às apresentações de artistas que cantaram sucessos memoráveis e também mostraram hits atuais. Embora não haja tanta qualidade musical atualmente como outrora. Daí a importância do resgate dos grandes sucessos que assistimos ao longo do programa.
               Antes da estréia da edição brasileira do The Voice, a TV divulgava a exaustão grudentos hits monossílabos. E não foram poucos: Tchê tchê rê rê tchê tchê, Bara berê, Para papá, entre outras músicas que corroboram aos ideais de futilidade e pegação geral que toma conta sobretudo dos jovens. Isso sem mencionar os enfadonhos Lê lê lê que os pagodeiros adoram. Além das músicas sertanejas "anunciantes de carros", que só podiam cantar mesmo a vida frívola que o sistema capitalista apregoa. "Agora eu fiquei doce, igual caramelo. Tou tirando onda de Camaro amarelo. Sem falar naquela: "Vem ni mim Dodge Ram...  E o sentimento? o lirismo? a alma? Ao que parecia, isso não tinha espaço na TV aberta. Eis que Lulu Santos, Cláudia Leite, Carlinhos Brown e Daniel, os técnicos do The Voice Brasil, auxiliaram novos aspirantes ao sucesso a trilharem seus caminhos e enaltecer a verdadeira MPB.
                Como diz o rei Roberto Carlos: "São tantas emoções". Emoções que tomaram conta dos telespectadores. Eu me incluo nessa. Claro! Como bom apreciador de boa música, vibrei quando assisti a performance de Ellen Oléria cantando " Maria Maria" de Milton Nascimento, com Maria Cristina cantando "Carnavália" dos Tribalistas (olha o Brown aí), e também com Liah Soares cantando "Asa branca". Só pra citar algumas das melhores performances vocais que tivemos o privilégio de assistir.
                O programa revelou hoje a grande vencedora: Ellen Oléria , dona de uma voz poderosa que  em suas próprias palavras: " Canto o universo de uma negra, lésbica, criada no Chaparral, região entre Taguatinga e Ceilândia." Seu som é uma mistura de samba, soul, bossa nova, funk e muita poesia. O que pôde se comprovar com as músicas escolhidas por Ellen nas apresentações. Que foram arrebatadoras tanto para o público de casa, quanto para os técnicos do programa.
                Torço pelo sucesso de Ellen Oléria. E já estou com saudade das tardes de domingo em que belas vozes cantavam " uma diversidade cultural", um sentimento, o âmago da sensibilidade criativa que grandes artistas compuseram. Quanto aos Tchê tchê rê, tchu tcha tcha, lê lê lê, o vento levará, assim como leva tudo que é descartável e indispensável ao ouvido e ao coração. Oh dó!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Maldito

         A carne é fraca, diz o povo.
         É a pequenez do homem,
         No espaço que ocupa,
         Em que sua mente gira.
         E vive a aspirar míseros
         desejos mesquinhos.
          Instantes de êxtase.
          Um pulsar e um arrepio.
          Toda a vida é tão previsível.
          Limitada a reles sensações.
          Nesse cosmos que emite
          ecos insondáveis e luzes
          cegantes e cores cintilantes.
          Uma opala reluzente,
          Um sol de diamante.
          Entre tantos deslumbres.
          E o homem a inventar.
          As coisas que lhe rendem.
          Como simples necessitado.
          Pobre homem, escravo de sí mesmo.
          Preso a seus sonhos.
          Inerte num plano, acima de tudo.
          E o homem, dizem, num
          futuro incerto, no caos do
          funesto: Tornar-se-há: PÓ.