Intenso,
intrigante,arrebatador, são inúmeros os adjetivos que podemos atribuir a obra, A
teia de Germano, de Roberto Muniz Dias. Se antes o nome do autor estava
atrelado (erroneamente) a literatura homoafetiva, A Teia de Germano é a prova de que sua escritura não se restringe ao rótulo imposto anteriormente. Este,
consistia numa mera tentativa de abarcar algo bem maior, algo com vários
desdobramentos: a obra metalinguística de Roberto M. Dias.
A Teia de
Germano é composto por narrativas dentro de narrativas. A Lúcio, é incubida a
tarefa de escrever a biografia de Erich H. Writ, escritor admirado por ele,
cuja obra "Ilusões da Grandeza Humana”, provocara um profundo impacto em Lúcio, devido
ao personagem principal Germano, possuir forte semelhança com aquele, ao ponto de fazer Lúcio mergulhar no mais remoto passado, em busca de redescobrir suas
sensações primeiras. É na infância em que a fantasia reina absoluta, onde Lúcio
pegava barquinhos de papel e Germano jogava sementes imaginárias que se transformavam
em ipês amarelos. Tempos em que a poesia não precisava da dor, esta, embora estivesse presente, não era sentida,
logo era guiada pelos sonhos, pela música do pai. Na fase adulta, O próprio
Lúcio, assim como o admirado Erich, carregavam o peso das desilusões amorosas,
dos erros cometidos. Restou-lhes, como subterfúgio a literatura, como
expressão de um dom ou como uma busca pela própria essência. Eis a metáfora das
folhas de hortelã, que mesmo esmagadas conservavam sua essência. A busca por
reviver momentos de outrora é tão latente, que Lúcio chega a repetir antigos
rituais, como pôr uma música dos tempos de seu pai e tentar recobrar a perdida
sensação do passado.
A tarefa de
escrever a biografia, coloca Lúcio num verdadeiro labirinto de memórias. Erich,
mostra antigas fotografias, mas estas não dispõem de datas, deixando a situação
propensa a Lúcio guiar-se pela própria imaginação e lembranças suas. Algumas
cartas enviadas por Erich, para embasar tal tarefa, só instigam-no cada vez
mais, por não disporem de remetente, nem destinatário. Exceto as de Isadora,
personagem que também sofreu o impacto de Ilusões da Grandeza Humana,
especificamente, por causa do personagem Germano, peça chave na vida desses
três personagens, pois Germano, segundo seu criador “ Germano é o homem que
pensava que fosse melhor do que os outros!” Uma característica que difere este
de Lúcio, é que Germano possuía habilidades com números, ao passo que Lúcio era
das letras, das estórias contadas pela passadeira Maria em sua infância, até a
escrita de um livro seu já adulto.
Não há como
não se envolver nessa teia de narrativas, seja para recuperar Germano e sua
forte influência na vida, sobretudo de Lúcio, como para deleitar-se nessas
estórias que, na verdade carregam o resgate que todos empreendemos em busca de
sí. E é pela linguagem, pelos relatos escritos ou falados que nos rodeiam que
norteamos nossas atitudes e seus reflexos nos outros. Não posso deixar de mencionar a impagável narrativa que Lúcio ouvira de uma visita, que remetia a "Anunciação",porém com toda a desastabilisação que a escritura 'Muniziana" proporciona. Vale muito conferir!
Nenhum comentário:
Postar um comentário