domingo, 22 de fevereiro de 2015

Impressões sobre A Teia de Germano

                Intenso, intrigante,arrebatador, são inúmeros os adjetivos que podemos atribuir a obra, A teia de Germano, de Roberto Muniz Dias. Se antes o nome do autor estava atrelado (erroneamente) a literatura homoafetiva, A Teia de Germano é a prova de que sua escritura não se restringe ao rótulo imposto anteriormente. Este, consistia numa mera tentativa de abarcar algo bem maior, algo com vários desdobramentos: a obra metalinguística de Roberto M. Dias.
           A Teia de Germano é composto por narrativas dentro de narrativas. A Lúcio, é incubida a tarefa de escrever a biografia de Erich H. Writ, escritor admirado por ele, cuja obra "Ilusões da Grandeza Humana”, provocara um profundo impacto em Lúcio, devido ao personagem principal Germano, possuir forte semelhança com aquele, ao ponto de fazer Lúcio mergulhar no mais remoto passado, em busca de redescobrir suas sensações primeiras. É na infância em que a fantasia reina absoluta, onde Lúcio pegava barquinhos de papel e Germano jogava sementes imaginárias que se transformavam em ipês amarelos. Tempos em que a poesia não precisava da dor, esta,  embora estivesse presente, não era sentida, logo era guiada pelos sonhos, pela música do pai. Na fase adulta, O próprio Lúcio, assim como o admirado Erich, carregavam o peso das desilusões amorosas, dos erros cometidos. Restou-lhes, como subterfúgio a literatura, como expressão de um dom ou como uma busca pela própria essência. Eis a metáfora das folhas de hortelã, que mesmo esmagadas conservavam sua essência. A busca por reviver momentos de outrora é tão latente, que Lúcio chega a repetir antigos rituais, como pôr uma música dos tempos de seu pai e tentar recobrar a perdida sensação do passado.
          A tarefa de escrever a biografia, coloca Lúcio num verdadeiro labirinto de memórias. Erich, mostra antigas fotografias, mas estas não dispõem de datas, deixando a situação propensa a Lúcio guiar-se pela própria imaginação e lembranças suas. Algumas cartas enviadas por Erich, para embasar tal tarefa, só instigam-no cada vez mais, por não disporem de remetente, nem destinatário. Exceto as de Isadora, personagem que também sofreu o impacto de Ilusões da Grandeza Humana, especificamente, por causa do personagem Germano, peça chave na vida desses três personagens, pois Germano, segundo seu criador “ Germano é o homem que pensava que fosse melhor do que os outros!” Uma característica que difere este de Lúcio, é que Germano possuía habilidades com números, ao passo que Lúcio era das letras, das estórias contadas pela passadeira Maria em sua infância, até a escrita de um livro seu já adulto.  

        Não há como não se envolver nessa teia de narrativas, seja para recuperar Germano e sua forte influência na vida, sobretudo de Lúcio, como para deleitar-se nessas estórias que, na verdade carregam o resgate que todos empreendemos em busca de sí. E é pela linguagem, pelos relatos escritos ou falados que nos rodeiam que norteamos nossas atitudes e seus reflexos nos outros. Não posso deixar de mencionar a impagável narrativa que Lúcio ouvira de uma visita, que remetia a "Anunciação",porém com toda a desastabilisação que a escritura 'Muniziana" proporciona. Vale muito conferir!

Nenhum comentário:

Postar um comentário