domingo, 24 de agosto de 2014

O Homem-Coisas


         Vivemos sob uma avalanche de propagandas. Elas estão em tudo e em todos os lugares. São os demorados intervalos comerciais televisivos; os vendedores ambulantes que bradam a plenos pulmões, oferecendo qualquer mercadoria; os carros que andam anunciando produtos com moças rebolando à la Panicat; os homens-placas que ficam na rua, faça sol ou faça chuva. E mais mil e uma maneiras de divulgação e estímulo ao consumismo. Ainda mais em tempos de vacas magras como nos últimos anos.                                                                                                         A programação da TV aberta, excluindo os telejornais já não é grande coisa, e tudo piora, quando são mostrados os anúncios publicitários. Com alguma celebridade é claro! Algumas campanhas não são nada criativas, o apelo fica por conta da tal celebridade que esbanja algum carisma, podendo provocar a curiosidade do telespectador-consumidor em experimentar o produto. Sem contar no merchandising básico que se infiltra sem a menor coerência no texto da telenovela. Tem aqueles programas "super educativos", como o Big Brother Brasil, cuja fórmula é: mediocridade, apelação e publicidade. Na emissora em que é exibido esse reality, os programas com conteúdo relevante são transmitidos após a meia-noite ou bem cedinho. Vide programas como o recente Como será? apresentado por Sandra Annenberg ou a série Na moral comandada por Pedro Bial, cuja temporada desse ano já terminou.  São exibidos em horários em que o cidadão, o peão no meu caso, está ou dormindo ou já a caminho do trabalho.
        No dia a dia do povão a coisa é mais intensa. Quem sabe faz ao vivo, já diz aquele apresentador falastrão. No comércio de rua vendedores ambulantes dominam pontos de ônibus, famosas ruas de comércio popular, e transformam esses ambientes numa campanha publicitária ao vivo, com tudo que o "ao vivo" acarreta: improviso, imediatismo e criatividade forçada. Ouço coisas do tipo: -água de Lindóia. Se não tomar fica na nóia. Ou: - au au au pururuca é um real. Ou: - Sufrér da Nestrê é três, dois é cinco.Há ainda os puxadores de lojas e restaurantes, alguns intimam: -vai almoçar ou vai ver jeans? -Serve-serve é só aqui! Por apenas 6,99 R$. Alguns chegam ao ponto de empurrar o produto na cara do cidadão! Este, está cansado do trampo e não ver a hora de entrar na condução. O subemprego é um problema social que precisa ser reparado. Alô presidenciáveis?!
          E o que dizer dos trabalhadores que ficam de pé horas a fio, segurando uma placa de vende-se? Ou a esbelta moça a sorrir, em frente a loja em que trabalha,  metida num lindo vestido de noiva? Esta última, ao contrário dos homens-placas, são notadas pelos transeuntes. Mesmo assim, imagino a eternidade que são os segundos para ela alí, feito uma estátua sorridente. Tem que sorrir, é claro! Ela está ali para mostrar o sonho de toda mulher.É o que dirá seu patrão.  Será que compensa os seus vencimentos? E os homens-placas, e os panfleteiros? indivíduos fadados à invisibilidade de quem passa por eles. Sei que esse serviço lhes confere dignidade. Entretanto, é sabido que é uma tarefa que não proporciona nenhum desenvolvimento, do potencial que o ser humano pode, e deve despertar.
          Acredito que essa explosão propagandística seja um retrocesso da humanidade. O lema de nossos dias é basicamente: Compre, logo exista. Parafraseando Descartes. Consumir e consumir o que nem se precisa. O que só provoca felicidade momentãnea. Viver está além de qualquer Etiqueta famosa, de qualquer "ostentação", a famigerada palavra que se apodera dos nossos jovens, ao invés de valores humanísticos. No dia em que a sociedade olhar para coisas essenciais à nossa vida, o mundo será mais digno de se viver. As pessoas não vão se preocupar se tem ou não o celular de última geração, ou o tênis Puma Disc, que mais parece um tênis-relógio que não dá hora. É lamentável constatar tantas disparidades no nosso país, como o subemprego. A saúde e educação totalmente deficitárias, ao passo que tentam empurrar os indivíduos para consumir mais e mais, através de inúmeras maneiras de divulgar um produto. Além de oferecer-lhes, limite de crédito que enriquecem mais e mais os bancos. 


domingo, 3 de agosto de 2014

Penar Imaginado



Até quando continuar revivendo?
Até quando ficar inerte à vida que corre?
Meramente como espectador da própria existência.
Quantas vãs tentativas de afirmação.
Tantas foram as tentativas de agarrar-se à vida.
E tantas, muitas frustrações.
Contam-se nos dedos os momentos de alegria compartilhada.
Quanto fel escorre de meus recônditos.
Quanto asco diante da mais "besta e vã alegria".
E tanta repugnãncia a tudo que não tenho.
E quanta precaução a tudo e a todos.
Por que só vivo depois que aconteço?
Por que sou só saudade e não atitude?
Pra quem deixarei minha miséria?
O que deixarei de miséria?
Mas do que adianta apenas sobreviver?
Sábia mãe que disse: - você tem dois braços e duas pernas.
E até hoje o que fiz foi meu melhor?
Contentando-me com os erros não cometidos.
Seguro morreu de velho, dizem.
Mas quem vive mais?
Quem mais vive ou quem melhor vive?
Continuo à deriva de mim e de tudo.
Pra quem farei essas toscas perguntas?
Até quando olhar para o nada?