domingo, 21 de maio de 2017

Humanz, Gorillaz

Capa da edição simples do álbum Humanz
  Após seis anos sem lançar material inédito o Gorillaz retorna com o álbum “Humanz”. E o que esperar desse lançamento? Hits grudentos? Como uma nova “Clint Eastwood” ou “Feel good inc”? Ou algo na linha do “The Fall”, que mais parecem b-sides ou sobras de estúdio? A questão é que Humanz está dando o que falar, de um lado, fãs antigos reclamam do excesso de convidados que parecem anular a essência do Gorillaz. Do outro, certa parcela de fãs ou mesmo alguns críticos, celebram essa polifonia caótica organizada pelo gênio Damon Albarn.
A característica mais evidente em Humanz é a polifonia, o que realmente passa uma impressão de bagunça, desorientando aqueles que buscam um trabalho conceitual e coerente. Todavia, é notável em Humanz a preocupação com o coletivo, com a humanidade mesmo, liberta de preconceitos, lembremo-nos da onda conservadora que domina o mundo nos últimos tempos. Foi esse olhar para a realidade opressora que culminou na inteligente letra de “Hallelujah Money”, além, claro, do fato dela ser cantada por Benjamin Clementine, o que é um alívio quando se está cansado da mesmice do cenário musical e de repente deparamo-nos com um vocalista um tanto peculiar. Quanto aos arranjos dessa faixa, esse aspecto sim, é muito do que o Gorillaz mostrou no “The Fall”. No entanto, ao agregar tantos convidados, torna-se inevitável não recordarmos do excelente “Plastic Beach”, álbum de 2010 que teve colaborações de Snoop Dog, Bob Womack, Little Dragon, entre outros. Em Humanz o número de convidados é absurdamente maior. Temos rappers como Pusha T., Popcaan; a diva Grace Jones; o trio de hip hop De la soul; Jehnny Beth, Kelela, entre tantos outros nomes, conhecidos ou não do grande público.
Tudo em Humanz aponta para o fato de que Damon Albarn não quer brilhar sozinho. Na melancólica “Busted and blue” temos Kelela (ótima) colaborando nos vocais, “Andromeda” é um feat D.R.A.M., ambas as faixas estão entre as melhores desse trabalho, principalmente para quem aprecia a interpretação de Damon Albarn, o artista que “me amolece os ossos” quando canta uma balada e que clama para que o público vibre, pule, quando ele e sua banda estão no palco cantando uma música agitada. Certamente ele iria gostar do público brasileiro – que é um bando de louco. Já diz Faustão: “Quem sabe faz ao vivo”, pois então, algumas faixas que parecem insossas no disco tomam outra dimensão ao vivo, é o caso de “We got the power”, que tem uma enérgica Jehnny Beth colaborando nos vocais, e também Noel Gallagher, e também sinos! Numa composição otimista e empolgante que faz querer pular insanamente onde quer que se esteja. Essa pegada agitada, o clima clubber é também a tônica de “Sex Murder Party”, embora eu não fazendo ideia sobre o que essa letra fala eu fico a dançar em êxtase. Humanz divide muito opiniões, como fan do Gorillaz, fiquei satisfeito com esse novo trabalho. “Plastic Beach” continua insuperável, mas Humanz cresce à medida que se ouve e conhecemos os artistas novos que agregam a polifonia caótica desse álbum. Nota 8,0.

domingo, 7 de maio de 2017

O Lobo Atrás Da Porta

Leandra leal em sua premiada atuação do filme
   O lobo atrás da porta, como o título já sugere, é um filme brasileiro que alude a célebre estória da Chapeuzinho Vermelho. É uma produção dirigida por Fernando Coimbra e estrelada por Leandra leal, Milhen Cortaz, Fabíula Nascimento, entre outros nomes de peso do cinema e televisão. A narrativa que fala do sumiço de uma criança no subúrbio carioca é baseada em fatos reais que ocorreram na década de 1960.
   Na cena inicial de O lobo atrás da porta temos um delegado desbocado, interpretado por Juliano Cazarré, colhendo depoimentos dos pais da criança desaparecida, numa cena ágil que já aguça a curiosidade do espectador pra saber como se deu o sumiço de Clarinha, filha da ingênua Sylvia (Fabíula nascimento) e de Bernardo (Milhen Cortaz). O delegado intima com a fome e sagacidade de um lobo, os pais da criança e a tia da creche (Karine Teles), esta, afirmando ter liberado a criança após um telefonema da mãe autorizando que uma amiga levasse Clarinha embora, uma vez que Sylvia estava doente. A cena apesar de tensa – o quão desesperador é a impotência de não saber onde está um filho, sendo criança então..., essa sequência tem alguma dose de humor negro provocada pelo personagem de Cazarré.
   Todavia o lobo dessa narrativa não é o desbocado delegado, há mais pessoas a serem interrogadas. Que segredos os pais de Clarinha escondem? Há quantas andava o casamento deles? É ai que Bernardo relata ao delegado que tinha uma amante, Rosa (Leandra leal), jovem, bela, misteriosa, a presa ideal para um predador tal qual vemos na feição de Milhen ao conhecer Rosa no vagão do trem rumo ao subúrbio carioca. Ressalto que após a sequência do depoimento dos pais de Clarinha, a narrativa abarca um tom de suspense, com vários enfoques na nuca de Rosa, em seus passos intrigantes e maliciosos que tornam-se mais intensos devido a trilha sonora em tais cenas. Nessa altura, o delegado já chegou a Rosa e está ouvindo seu depoimento, não economizando, é claro, no linguajar de baixo calão. A versão de Rosa nos coloca numa sensação de horror, diante das consequências que certas atitudes provocam. Obviamente o verdadeiro lobo dessa história merece cumprir sua pena como está descrito na lei, entretanto, isso não isenta Bernardo de culpa pela forma como conduziu seu caso com Rosa. O machismo ou sem-vergonhice de Bernardo provoca náuseas, não que eu esteja  a justificar Rosa.
   Se este filme fez barulho nos festivais por qual passou, chegando a levar importantes prêmios, isso é mais que merecido. Fernando Coimbra, o diretor, juntamente como estelar elenco entregaram um filme perturbador, apresentando um drama-thriller que configura a força do cinema brasileiro, ou seja, um filme artístico, diferente do que as massas entendem por filme nacional, uma vez que geralmente tendem a ter preconceito com as produções brasileiras, por associarem à temática de favelas ou as comédias toscas como as encabeçadas por Leandro Hassum e Cia.

P.S. Não esqueçam de verificar a classificação indicativa. Bom filme!