sábado, 20 de abril de 2013


Impressões sobre o romance Senhora de José de Alencar

         Apesar de apresentar todas as características de um romance romântico, como o amor e uma beleza idealizada frutos da visão romântica do romancista que faz citações de outros autores românticos como Byron e até de outro romance seu “Diva”, é evidente o cunho realista que essa obra aponta ao tematizar o casamento por interesse, leia-se, que baseava-se no dote da família da noiva, tão comum na época em que o autor viveu.  O duelo amor e renúncia; realidade e aparência; clareza e ironia, entre outros perpassa todo o enredo. Tem-se desse modo, o resultado das escolhas que os personagens fazem. Seixas, apesar de seu bom carácter, corrompe-se à uma sociedade que estava a caminho de tornar-se cada vez mais afeita ás aparências que norteiam a mente burguesa. Aurélia, apercebia-se de tudo que a rodeava. Costumes, noções de seus direitos que a lei garantia e de tudo que sucedia na sociedade fluminense. No entanto, ela era uma romântica acima de tudo. Seu amor por Seixas, nos é revelado em alguns trechos, por exemplo , na hora em que o casal valsa tornando-se uma sensação aos olhos dos convidados. A intensidade com a qual Alencar descreve esse momento é certamente um dos momentos mais românticos dessa estória que ao final acaba bem ao gosto do público (leitoras) , romântico da época.
         Esse romance é considerado um dos principais trabalhos de José de Alencar sendo adaptado para versões de novelas diversas vezes. Tamanho é o fascínio que a leitura desse romance envolto em descrições minuciosas das personagens e do ambiente que as circundam, no melhor estilo romântico que Alencar soube tão bem apresentar nas páginas de seus romances.  O detalhe mimoso, o ornamento de um móvel, assim como um simples gesto dos protagonistas nos é visível pela precisão com que o autor nos relata. Criando verdadeiros perfis de heróis em seus romances. Em “Senhora” , tem-se um marco na literatura Brasileira: uma mulher protagonista, que encanta a todos desde os tempos de pobreza, aos tempos em que tornara-se conhecida nos salões fluminenses. E um dos melhores feitos dessa personagem foi  permitir com que seu homem amado percebesse o mundo de interesses e aparências a que ele se inclinara. Resultando em seu arrependimento e restituição de sua honra. A lição aprendida é que tudo se compra, num mundo de tantas convenções visando sempre o interesse, o lucro. Mas o amor... é algo de valor incalculável. E para obtermos é preciso abdicar de toda a ambição, vislumbre, hipocrisia, egoísmo e outras sensações que impregnam -nos vez ou outra.
         Senhora é um romance que encanta não só os profissionais das letras. Uma prova disso é que esse romance foi adaptado para a televisão diversas vezes. Apesar  que a melhor maneira de se aprofundar no movimento romântico é através da leitura, pois é em José de Alencar que o espírito esplêndido desse movimento,  desmancha-se em páginas que nos  encantam pelo teor romântico e nos instigam pela crítica aos costumes da sociedade.


 

          

domingo, 14 de abril de 2013

Menos intolerância

      Entendendo exercer a cidadania como um referencial de conquista dos direitos humanos, através daqueles que sempre buscam mais igualdade de direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas não se conformando com as dominações de qualquer instituição que dissemine a intolerância sobre qualquer  aspecto: orientação sexual, religioso, etnia, cor da pele etc. É natural que as pessoas assumam a coragem de afirmar-se perante às afrontas proferidas, verbais ou não. Ainda mais quando se vive numa época marcada por uma miscelânea, norteada pela globalização e impulsionada pelo individualismo que ultrapassa qualquer entidade social ou grupo religioso, seitas com anseios em comum. Isto é, em tempos de corrida pelo destaque em qualquer atividade que vise à prosperidade capitalista e consequentemente pessoal, chega a ser um retrocesso debater-se com afirmações preconceituosas oriundas de qualquer espécie.
        As pessoas esperam o momento certo para exporem seus anseios ou visão de mundo. E foi isso que fez a cantora Daniela Mercury, ao expor em vários meios (redes sociais, TV, jornais), sua conduta sexual. Mais que um momento oportuno. A categoria LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), estava e ainda está sendo alvo de discriminações, por pessoas públicas como a cantora Joelma, da Banda Calypso, e também pelo famigerado Pastor Marco Feliciano. Esse, também disparou comentários racistas, o que provocou a ira de muitas pessoas que manifestaram sua indignação com passeatas por todo o país. Vale ressaltar, que essa revolta é devida ao fato do pastor presidir uma a comissão de direitos humanos. Fato no mínimo contraditório.
         Ao mostrar ao país sua orientação sexual, a cantora encoraja àquelas pessoas que são vítimas da intolerância em qualquer ambiente: familiar, escolar ou no trabalho. Pois as passeatas que são realizadas com o propósito de garantir os homossexuais os direitos inerentes a qualquer ser humano, não tem sido suficiente para conscientizar muitas pessoas que vivem ainda no abismo da ignorância. Na verdade, a famosa passeata pelo orgulho gay transformou-se numa festa. Sendo assim, a atitude de Daniela Mercury significa uma maneira de lutar pela cidadania de toda uma classe que é na maioria das vezes, vista sob as lentes dos estereótipos  (afetação, promiscuidade)., quando na realidade, são apenas seres humanos com os mesmos direitos e deveres, aos quais todos possuem, inclusive o direito à liberdade individual, liberdade de expressão e de pensamento.

O passado, o presente e o futuro em Bisa Bia, Bisa Bel

       O passado é representado na narrativa, logo no início, através de objetos antigos como a caixinha de madeira, os retratos antigos em envelopes de papel pardo e também pelas lembranças da mãe de Isabel ao discorrer sobre um meio de transporte comum da sua época:
      _ A gente ia de bonde, era ótimo, fresquinho, todo aberto. Às vezes tinha um reboque. Quando a gente pagava... (pag. 8) E algumas palavras ditas pela mãe, como motorneiro, intrigavam Isabel. Mas o passado vem à tona mesmo quando Bel encontra um retrato em formato de ovo, de cores marrom e bege, cores que eram denominadas sépias. Na foto via-se uma menininha linda, de cabelo todo cacheado, vestido claro cheio de fitas e rendas. Era a bisavó de Isabel. A Bisa Bia. Que na foto segurava uma boneca de chapéu e algo parecido com um bambolê, um arco, brinquedo da época de Bisa Bia.
        Isabel fica tão encantada com a foto de Bisa Bia, que passa a ouvir sua voz. E o que Bisa Bia fala, na maioria das vezes, são repreensões por Bel, ter modos que na sua época eram inapropriados para uma menina: Usar short, assoviar, subir na goiabeira etc.  Por exemplo:
       _ Ah, menina, não gosto... (pag. 18)
        Desde então as duas começam a conversar sobre as coisas de seu tempo: Bisa Bia, do passado e Bel, do presente. Bisa Bia cita coisas como: móveis antigos (bufê ou etagér),penteadeiras enfeitadas com bibelôs, mosquiteiros, toucador, penico... coisa extintas no tempo de Bel. O que a deixa surpresa com tanta coisa que ela desconhecia. Entretanto, Bisa Bia fica tão chocada quando esta lhe conta das coisas de seu tempo presente. Observa-se um choque entre as coisas, hábitos do tempo de Bisa Bia (século XIX) e do tempo de Bel (século XX). Ao ouvir Bel avisar que vai comer cachorro quente Bisa Bia exclama:
       Deus nos acuda, minha filha! Isso lá é coisa que se coma? Coitadinho do cachorro... Situação semelhante Bel demonstra quando Bisa Bia fala de uma merenda de seu tempo: baba de moça: 
      _ Baba de moça , Isabel, uma delícia!
      _ Ai, que nojo, Bisa, como é que você tinha coragem?
      E o papo explicativo entre as duas continuava. Bisa Bia contando como eram as coisas de seu tempo e repreendendo Bel por seu jeito espontâneo de ser. Ao contrário de outrora, onde as meninas tinham de ser comportadas, quietinhas. O que reflete o modelo de mulher submissa do século XIX e começo do século XX. Logo isso acaba perturbando Bel: a mania de Bisa Bia viver lhe dando conselhos que não funcionam mais. Mudaram-se as maneiras, regras de comportamento no tempo presente que vive Bel.
      Eis que para confundir ainda mais a cabeça de Bel, ela começa a ouvir uma nova voz: a voz de Beta, sua bisneta, que assim como ela, encontrara a foto de sua Bisa: Bel (de short e trancinhas), nas coisas de sua mãe. A voz de Neta Beta contrapõe-se a de Bisa Bia. Ela fala exatamente o que Bisa bel quer ouvir:
        _  faça o que você bem entender... (pag. 30) Ou seja, uma voz do futuro, onde a mulher já tem plena liberdade de agir conforme seus anseios. Vale lembrar, que Neta Beta, que está décadas e décadas à frente de Bisa Bel encontrou sua foto e fez uma holografia delta. E as vozes começam a disputar na cabeça de Bel. Qual voz seguir? A do passado ou a do futuro?
Sendo que Bel, só quer conquistar sua autonomia. E para isso é bom ter a tranquilidade de Bisa Bia, mas também a coragem de Neta Beta.
         Mais que uma simples estória sobre as lembranças de uma menina, através de seus laços familiares e escolares. Bisa Bia, Bisa Bel é um fiel retrato sobre a percepção dos costumes extintos para uma modernidade que se extinguirá também com seus hábitos de maneiras e linguagens. Tudo contado de forma lúdica e pedagógica por Ana Maria Machado, que faz as meninas mais sensíveis derramarem lágrimas com essa tão envolvente narrativa.