domingo, 27 de novembro de 2016

As Histórias de fadas de Oscar Wilde

Edição de bolso da Saraiva
   Oscar Wilde sempre nos remete ao tema beleza e tentações, e claro, a sua obra prima “O retrato de Dorian Gray”. Certamente, foi uma personalidade muito controversa segundo consta sua biografia. Entretanto, mesmo analisando seus textos diversos, as controvérsias acentuam-se cada vez mais. Apesar que soa ingênuo da minha parte querer separar o autor da novela “O retrato de Dorian Gray” do autor de contos infantis, escritos para os próprios filhos. Pois mesmo em contos como “O príncipe feliz” ou “O jovem rei”, entre outros, o apelo descritivo construído com metáforas designadas por pedras preciosas estão lá, em demasia. A mesma tentação ocasionada pela beleza, ou melhor, valendo-se de um signo atual, a “ostentação” era a armadilha visual que Wilde tanto tematizava em seus textos.
   Em seu “Histórias de fadas” não temos o esperado “happy end”, o que leva-me a acreditar que Wilde intencionava incutir em seus filhos ( e possíveis leitores) os valores reais que salvariam a alma, ou seja, resistir as tentações, que podem nos cegar de tão belas, é o que deve-se fazer para  não padecermos tão tragicamente como seus personagens. No conto “O jovem rei” vemos que o belo e valioso  que ornamenta os reis é obtido através do sofrido trabalho dos pobres, ou melhor, de um trabalho degradante e arriscado o qual o jovem rei toma conhecimento em seus sonhos. O texto comove pela narrativa dramática, entretanto com o propósito disciplinador que exalta a renúncia ao ornamento que enfeita o reinado mas traz um rastro de morte consigo.
   Além das tentações pelas pedras preciosas e todo o requinte dos abastados do século XIX, outra armadilha á qual Wilde alude em seu “Histórias de fadas” é o próprio ego inflado de alguns. O texto “O foguete notável” funciona como um apólogo e narra a estória de um foguete que se considera superior a todos os outros. Um tom de leveza e humor perpassa o texto devido aos disparates proferidos pelo foguete que crer que todos os acontecimentos giram em torno dele. Um “notável” exemplo: os foguetes serão lançados na ocasião do casamento do príncipe – o foguete notável enxerga o oposto, é sorte do príncipe casar-se no dia em que ele será lançado. O cúmulo é o fato deste foguete distorcer os comentários a seu favor, vejamos um excerto:
- Ora essa! – exclamou. – Olha só um foguete que não presta! – e atirou-o por cima do muro, em uma vala.
-Foguete que não presta? Que não presta? –disse ele, enquanto voava pelos ares.  – Impossível! Foguete de dar festa, foi isso que o homem disse. Não presta e dar festa tem quase o mesmo som, e para falar a verdade são praticamente a mesma coisa- e caiu na lama. (p. 47, 48).
   Os contos de “Histórias de fadas” são muito comoventes. Os textos, apesar de destinados ao público infanto-juvenil, explanam os vastos caminhos que rondam a alma do homem, os medos, os objetivos e também a inevitável morte. Que não esperemos princesas que ressuscitam após um beijo do amado ou que perdem sapatinhos... a matéria-prima de Wilde é a sociedade moderna e seu homem preso ao presente e refém da sua alma.