domingo, 27 de abril de 2014

Jóias da MPB

        O atual cenário musical brasileiro parece desolador? Parece apenas. Não se pode julgar que não há nada de criativo conhecendo apenas os "bolas da vez" que a mídia televisiva expõe. A TV não é o único meio de se conhecer artistas relevantes. Esse é, sem dúvida o mais limitado. Apresenta somente uma parte que, pretenciosamente, quer julgar-se o todo. Todos que têm acesso à informação sabem que há bem mais que isso. Jornais, internet e revistas constituem ainda, meios bem mais democráticos de transmitirem cultura abrangente a todos os públicos. Diga-se, um público exigente. Que procure qualidade e não auto promoção, ostentação, ou mais definidamente: chateação.
         Outro dia ouvi o comentário descontente de uma colega, acerca do "sucesso" Beijinho no ombro: - Isso é Brasil. Mesmo que ela, não leia esse meu desabafo, espero que ela mude seu conceito sobre a música brasileira. Citarei alguns artistas que se propõem e fazem realmente música boa. Não estou falando dos medalhões Chico Buarque, Gal Costa, Marisa Monte, Ney... entre tantos, falo de uma moçada que certamente se inspiram nestes para apresentarem bons trabalhos. Segue abaixo:
Marcelo Jeneci: feito pra emocionar.
. Marcelo Jeneci. O paulistano, é um músico completo, além de cantar e compor muitas de suas canções, ainda é multi-instrumentista. Suas letras soam desprentenciosas e versam sobre temas amorosos, tal qual um Roberto Carlos da nova geração, no que tange o romantismo sem apelos.  Esbanjam poesia pura e vão na contramão da tão famigerada ostentação. Para Jeneci, o melhor da vida vem de graça. O talento do moço está mais que provado no segundo álbum intitulado "De graça". Pra fortalecer os vocais, algumas faixas contam com a voz doce de Laura Levieri. Top 6 Jeneci: O Melhor da Vida; A Vida é Bélica; Tudo Bem, Tanto Faz; Felicidade; Quarto de Dormir; Feito pra Acabar.
Vanessa da Mata: alegria contagiante.
.Vanessa da Mata. A mato grossense é até bem conhecida. Está há algum tempo na estrada, várias músicas suas tocavam em novelas globais (ai ai ai ai ai ai...), seu cabelo é naturalmente lindo. Mas ela, tem lá seus detratores,chamaram-na de Gralha! Imaginem com essa voz de veludo tão linda. Talento ela tem de sobra. Vanessa é incansável. Além de fazer seus trabalhos autorais, já fez
shows em homenagem a medalhões da MPB como Luiz Gonzaga e Tom Jobim.Nem precisa dizer, que ambos os shows foram um sucesso. 
O estilo propriamente de Vanessa, pode ser definido como uma música que embala desde temas como o amor, como lembranças da infãncia, algum sarcasmo com a sociedade, enfim coisas relevantes transformadas em arte. Top 6: As Palavras; Vermelho; Te Amo; Viagem; Amado; Boa Sorte/Good luck.
Roberta "Diva" Sá
.Roberta Sá. A intérprete potiguar é mais conhecida no Rio de Janeiro. Surgiu no extinto Fama, não foi a vencedora, mas consegui emplacar e obter um público fiel. Já fez várias parcerias de peso como na melancólica "Peito Vazio" de Cartola, com Ney Matogrosso, entre outras como o trabalho com o  Trio Madeira Brasil onde explora a musicalidade afro-baiana no álbum Quando o Canto é Reza, um álbum inspirado na obra do compositor baiano Roque Ferreira. A voz doce e afinada de Roberta evoca tanto um samba das antigas, quanto uma cadência mais alternativa, sem deixar de flertar com o samba. Vale ressaltar que os outros trabalhos de Roberta já atestam sua capacidade de emocionar através de sua entrega à boa música.
Top 6: Mais Alguém; Você não Poderia Surgir Agora; Samba de Um Minuto; Pavilhão de Espelhos; Cicatrizes; No Braseiro.  

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A fossa nova

You, you don’t kiss when you kiss,
You don’t f*ck when you f*ck
You don’t say what you mean, you don’t talk not enough
No possible, impossible patience
Impossible
(Fiona Apple)

       Ao assistir ao aguardado Ninfomaníaca vols. I e II, de Lars Von Trier, fiquei levemente perturbado com duas frases que aparecem no filme. Vou abster-me de explanar se essa obra é bem feita ou não. Tampouco discorrerei sobre o roteiro, esse, não só os cinéfilos devem saber: Ninfomaníaca, teve uma grande campanha publicitária, um dos thrailers foi exibido até, por um descuido, (será?) numa sessão infantil nos EUA. Sem falar nos cartazes super ousados, com o elenco em situações orgásticas. Ninfomaníaca, não é nem de longe a obra-prima do fodaço Lars Von Trier. Entretanto, vale a pena assistir.
        Bem, a primeira frase que fiquei martelando dias e noites foi: " O ingrediente secreto do sexo é o amor." Excluindo o contexto da narrativa cinematográfica e partindo para a minha concepção, do meu viver, essa frase soa-me arrebatadora. Faz-me refletir até onde se deve separar amor e sexo. Não sou nenhum expert em nenhum dos dois. Vida amorosa e sexual que é um fracasso total. E penso seriamente (herança religiosa?) que sexo tem de ser o complemento do amor sim. Pois, o que é um gozo, comparado a estima e espera de um ser amado? Estou sendo romântico e piegas demais? Quem encontrou sua cara metade e goza de uma vida sexual ativa ganhou na loto. Evocando a canção de Rita Lee: " Sexo vem dos outros e vai embora, amor vem de nós e demora." Esse modo de viver, querendo sempre mais e mais das coisas não é fácil. Suporta-se na medida do possível. Vez em quando, alguém indaga: - Você está sempre sozinho. E nem é tão feio... você escolhe muito... - Pois se quase não tenho tempo... dali mil desculpas. Fazer o que, se não me é facil contentar com minutos de prazer que não serão mais que minutos- passados- de- prazer. E no dia seguinte baterá até um certo asco e a indagação: -Mas então é só isso?
        A segunda frase é: " Meu pecado é que eu sempre exigi mais do pôr do sol." Essa, foi dita pela protagonista do filme. E, encantou-me de imediato. Sim, também eu exigi muito que o por do sol trouxesse noites de luar inebriantes! E que a solidão fosse uma vaga lembrança. E que não houvesse tanto barulho das motos dos entregadores de pizza.  Nem de arruaceiros voltando das baladas. Não, não..., é periclitante estar assim à beira dos acontecimentos alheios. Assistindo ao tempo escorrer como fios invisíveis porém, ultra-sensíveis até o último átomo de segundo. E assim como a maioria das pessoas, o clichê dos trópicos é gostar de dormir ao som de pingos de chuva. De conchinha não gosto não. Tudo tem limite até mesmo romantismo. Só espero que o preço que pagarei por esse "pecado" não seja tão caro. Que as noite sejam frescas, aconchegantes. E, antes seguras, que entregues a momentos que nada edificarão.Nada acrescentarão a um viver metódico. Mas, as vezes bate um receio de não arriscar, não arriscar e de repente chegar-se, na velhice! E que mico que é ficar pagando de boyzinho na balada e carregar uns cinquentão nas costas! Ainda bem que estou muito bem casado! Com os livros e devaneios acerca de nada e um pouco menos.
       

terça-feira, 8 de abril de 2014

Ostentação e desumanidade

Odeeeeeeeeeeeeeeeeeio.
         Vejo num site de notícias que um adolescente foi espancado até a morte. Entristece-me constatar o quão violenta é a juventude brasileira. O que acontece? Onde está o problema? Nos pais? Na escola? Ou seria esta uma refém da guerra friamente declarada nas periferias das metrópoles? É lamentável saber o quão cruel é o ser humano. O quão mesquinho é o estado de defensiva  que  maioria das pessoas carrega e expõe num faiscar de ameaça. Muitos educadores consideram a missão de ensinar falida, em virtude do aumento do desrespeito no ambiente escolar. Alguns pais, dizem desconhecer qualquer ato de vandalismo por parte dos filhos, deixando os professores a mercê das vilanias de alunos delinquentes. 
         O adolescente em questão foi assassinado em um baile funk. Lugar este, onde tudo conspira para coisas nada edificantes. Ao contrário, geralmente são nesses recintos em que se "bater de frente é só tiro, porrada e bomba". Vale lembrar que foram um grupo de funkeiros que depredaram um hipermercado na Zona leste de São Paulo. A cultura do " quem manda é nóis" recebe um grande aval desse tipo de música. Esta, resume-se a uma batida repetitiva com algum sampler de qualquer hit do momento. E as letras versam na sua maioria, há cultura de um almejado estilo de vida, no qual seus adeptos nem de longe conseguem dispor, sem ser através de meios ilícitos. Na verdade, é uma "música" que coisifica o ser humano, usando a máscara da "ostentação". Obviamente, brigas não acontecem somente nos bailes funks, entretanto, mediante a notoriedade desses eventos, fez recair na sociedade o comportatamente preocupante de nossos jovens. Faltam bons exemplos? Sim. As pessoas parecem ter esquecido a palavra PAZ. A todo momento elas pronunciam o nome de Deus, e sequer assimilam o grande ensinamento que Este deixou. Ao contrário, usam-no pra atacar, uma vez que a cultura da violência tá tão impregnada que fazem-no, "de escudo". Está aí a explicação para o "sucesso" da música de Valexxxca Popozuda. Sim, a maioria dos Novinhas, querem ser as Tops! Quem olhar torto é pra ralar fora porque deve tá é com inveja. Estas Novinhas querem pegar vários meninos. Estes, tem que tá no estilo. Só na ostentação. A lei geral é: tem que ser o Pica-das-galáxias. Pegar geral. Tratam-se, como se fossem descartáveis. Num baile o importante é beijar o maior número que conseguirem. E ainda por cima se dizem tementes a Deus. Qual Deus?                                     
          -Pais, como vocês desperdiçaram o legado deixado pelos antepassados? Cadê a severidade na hora de dialogar com os filhos? Os tempos são outros? Sim, entretanto, a mesma capacidade que um filho tem de aprender a ofender, ele tem pra evitar desordem. Paz, começa na mente. Mentalize, fale e aja. Coisas edificantes, não destrutivas. É isso que esses jovens precisam vivenciar. Quanto mais cedo a criança conhecer a noção de respeito ao próximo e os princípios de benevolência, mais cedo ela se tornará resistente aos caminhos que prejudicam o bem está do próximo. A escola, não deve desacreditar jamais no seu poder de formar cidadãos civilizados. Quantos professores não gostam de serem reconhecidos pelo seu trabalho? A maioria se sente em êxtase, quando reencontra um ex-aluno que foi auxiliado a conhecer os bons caminhos da vida, através de suas aulas. Entretanto, o aluno deve trazer de casa a noção de humanidade. Esta engloba paz e respeito a vida de todos.  

domingo, 6 de abril de 2014

Metido sem eira nem beira

Piauí: Tenho sim, muitas saudades.
       Outro dia, recebi um convite para visitar uma amiga que não via há mais de dez anos. Era dos tempos da escola. Estudamos juntos o colegial todo e ao longo disso, uma bela amizade se fortaleceu. Mas, com o término do ensino médio, vieram as grandes decisões: e agora? o que fazer? Nos rincões do Nordeste, a sina é se aventurar rumo a São Paulo. Foi isso que fizemos. Ela, porque era noivo de um morador de Sampa, eu, há tempos almejava vir a Sampa. Tanto pra trabalhar, quanto por uma vontade doida mesmo.  "E foi um difícil começo"... óbvio. E, voltando ao convite, é claro que fiquei muito feliz. Ao contrário do que dizem, o mundo não é pequeno coisa nenhuma. Em São Paulo então... é uma vastidão oceânica. Pequeno é o tempo que dispomos para dar atenção nossa família, fazer uma leitura ou ter outro lazer, como rever amigos de longa data, entre outros não tão longínquos, que somem nas intempéries do destino.
        No dia do encontro, sai com duas primas rumo a visita especial à antiga colega de classe. Ela, que morava na Zona Sul, nos recebeu com um largo sorriso. A mim, logo exclamou: - Você não mudou nada! Minutos depois dos cumprimentos, ela dispara num misto de inocência e resentimento: - ninguém da nossa sala se formou em médico. O que nos fez cair na risada. Do sertão de onde viemos, é quase raro alguém conseguir estudar medicina. Falei que recentemente, me formei em professor. Ela deu os parabéns. Em seguida, conversamos sobre a vida num lugar que é totalmente o oposto a nossa terrinha. Cada um contou em poucas palavras, a sua vida em Sampa. O trabalho, o bairro, as formas de lazer... , do medo das manifestações violentas ,etc. Enfim, chegou a hora do almoço. Vieram os irmãos de minha amiga e suas respectivas esposas. De novo os cumprimentos. Um dos irmãos repetiu o que minha amiga disse: - O Cadu tá do mesmo jeito. O almoço prosseguiu, encontro de piauienses: galinha caipira no cardápio, é claro. Ao som de forró, sim senhor. Esqueci de contar que no café foi servido um delicioso bolo de polvilho.
        Após o almoço, um dos presentes perguntou a uma das minhas primas: -Você gosta daqui? Ao que ela respondeu negativamente. A outra prima também desafiada: - Não. Mas, é o jeito né. Dos dez presentes, com excesssão da filha pequena, só eu afirmei gostar de São Paulo. Entretanto, não me prolonguei no assunto, deixei a imaginação deles tirar quaisquer conclusões a respeito disso. O fato é que após esse encontro, eu pús me a pensar: - estarei negando minhas origens? Noventa e nove por cento de meus conterrâneos levantam a bandeira piauiense aos quatro ventos. Estão sempre visitando a terrinha nas férias. Postam coisas alusivas ao Piauí nas redes sociais e etc. Eu entretanto... levei até fama de metido! Na verdade, esse rótulo há tempos me puseram. Incompreensão, é claro. Não contei a ninguém como gosto da liberdade, que é andar pelas ruas de São Paulo sem ninguém me conhecer e me julgar. Goza-se de um anonimato totalmente libertador. Não. Não me sinto perdido na vastidão de Sampa. Eu me encontro na plenitude que minha solidão proporciona. Sou eu e o mundo. Nasci só e morrerei só. Há tempos desisti de buscar ser compreendido. Não me basto. Lógico. Entretanto, não quero me limitar a unilateralidade das coisas que sempre ouço e vejo nos outros.