sábado, 22 de abril de 2017

"Tropical, Latino-americana"

Céu em foto da fase Tropix
   Tropix é o quarto álbum de estúdio da cantora paulistana Céu, há pouco mais de um ano do seu lançamento, a cantora continua colhendo os frutos desse primoroso trabalho. Seu show na última edição do Lollapalooza Brasil ratifica o quanto a sua música é universal, tanto pela versatilidade dos arranjos, quanto pela poeticidade que emana de suas composições. No aclamado álbum apenas duas faixas não foram compostas por ela: “Chico Buarque song”, um cover da banda Felini e “A nave vai”, composta por Jorge Du peixe, esta, uma das mais irresistíveis do Tropix, sendo a faixa que encerra os shows da turnê. Certamente é uma das melhores do álbum,  essa composição  aborda, entre outras acepções, a nossa insignificância nessa “nave”, ou o nossa inconstância e os desdobramentos – “De manhã sou um, de noite já fui dois.” “Seremos quem somos ou serei quem sois.”
   Outra característica do Tropix é a abordagem do social, ou seja, Céu conserva seu intimismo nas composições, mas abriu o leque para uma esfera maior tematizando a responsabilidade com os filhos, isto é, na faixa “Rapsódia brasilis” o eu lírico incorpora a figura da empregada que fica com a criança durante grande parte do tempo, observando seu crescimento, as brincadeiras, uma vez que, geralmente a patroa/mãe, trabalha fora e “delega” - expressão empregada pela própria Céu numa entrevista –  à empregada ou babá a função de cuidar dos filhos. Basicamente é uma composição que vai ao encontro do que é retratado no filme “Que horas ela volta”, obra de outra ilustre paulistana, Anna Muylaert. Rapsódia brasilis é a faixa que abre os shows da turnê, seguida pela primeira a ser divulgada do álbum “Perfume do invisível”, faixa empolgante e que sintetiza o ideal desse trabalho: a utilização sonora de linguagem eletrônica, o pixel, dai Tropix, um eletrônico somado a brasilidade dos trópicos.

   Já que falei em brasilidade, em tropical, não há como esquecer da faixa que teve mais aceitação nesse trabalho da Céu: “Varanda suspensa”, a letra versa sobre  uma paisagem do litoral norte paulista, reminiscências de quando a cantora ia passar as férias, há muito tempo, provavelmente em criança, em casa de avós em São Sebastião. Impressiona como algo tão simples, transforma-se em pura poesia nos dedos e garganta de Céu. E também o mérito deve ser atribuído aos produtores desta canção e do trabalho como um todo. Tropix é certamente um dos seus melhores trabalhos. Não há faixa que se queira pular, pois cada uma possui uma peculiaridade a ser apreciada e geralmente é a poesia da compositora. Não há como ficar inerte quando ela embala “Saiba, meu amor/Cuidarei de nós/Mesmo quando eu for/ Em busca de mim/Em busca do que/Faz você me amar/Mais. Alguns exaltados até comparam-na com Maria Bethania, o que nem é preciso, Céu é ela mesma!

domingo, 9 de abril de 2017

Nostalgia

Trilha sonora da novela exibida em 1994
  Tudo começou com a volta do vinil, que por sinal custam muito caro, mas a vitrola fora um inestimável presente. O primeiro vinil ganhei antes mesmo do aparelho. Novíssimo claro, o LP Tropix da cantora e compositora paulistana Céu. Todo fim de semana a faxina é com a bolacha girando devagar ao volume que irradie pelo parco ambiente de dois cômodos que habito. O amigo conterrâneo comentou o hábito retrógrado, mas eu disse-lhe “é vintage” ao que ele esboçou um “ahh”. Mas como adquirir os vinis novos com tão salgados preços? O jeito é garimpar os discos do século XX nos sebos, o que não falta em Sampa, não é mesmo? Enquanto 99% das pessoas, meu namorado inclusive, viça o brilho no olhar com o novo comercial do mais novo aparelho celular, do meu lado mesmo, no intervalo da novela. Não sinto nada mesmo por essa inovação toda! Por mais lindo que seja o celular.
  Que sensação radiante! Por outro lado, parece-me, mais um indício da insatisfação pelo presente. Sim, a confirmação veio com o apreço às trilhas internacionais de novelas. As do século passado, claro! Precisamente as da última década, os anos noventa foram minha descoberta do mundo. A imersão na horrível fase que é a adolescência. Bem, mas naquela década, as telenovelas da Globo eram bem contadas. Quem dessa época não recorda de “Quatro por Quatro” ou “Vamp”? E a trilha sonora é um capítulo à parte. Hoje tudo soa previsível demais... as redes sociais tem sua parcela de culpa, os assuntos infestam-se por timelines até esgotarem o sumo e dar vez a outro assunto e no fim tudo é mais do mesmo. O que fica? O presente me aniquila, volto ao passado pra recuperar algum sentimento. As bolachas com os atores na capa servem de antídoto para ultrapassar. Breguice? Que seja, mas as canções até provocam epifanias. Talvez faziam muito sucesso pela pouca competitividade, então os músicos tiveram nessa época sua fase áurea. Quem não recorda o Pet Shop Boys, Bon Jovi, Information Society, Sade, enfim, inúmeros que até continuam na ativa, mas o som daquela época era tudo! Só não consigo lembrar que personagem da novela certa canção era  tema, até porque muitas novelas eu nem assistir. Depois darei uma olhada no canal Viva.

  Pego-me a lembrar que nessa década de noventa muitos assuntos eram um tabu desgraçado! Ah... mesmo assim que saudade que deu... “o passado é uma selva de horrores” disse R. M. D. mas bem que eu voltaria no tempo... pra variar, a beleza de Marion Cotillard leva-me a assistir “Meia noite em Paris” que aborda, entre outras coisas essa insatisfação com o presente – sob o ponto de vista de ilustres como F. Scott Fitzgerald, Salvador Dali, Paul Gauguin, entre outros e do protagonista do filme “Gil Pender” vivido por Owen Wilson, na verdade a personificação do grande Woody Allen. O que seria de mim sem filmes bons como esse... cumpriria meu destino, ora essa! Por enquanto enamoro-me dos LPS baratos de trilhas de novelas com as atrizes nas capas ostentando penteados à moda da época. As canções soam tão autênticas, doces melodias, etéreas, já nem sei como descrever as sensações nostálgicas. Mas nem adianta me convidarem pra festas temáticas tipo “flashbacks” que provavelmente não irei. Velho, eu ao menos, durmo com as galinhas.