sexta-feira, 31 de julho de 2015

Tá boa!

Foi ao Rio com um primo e ficou hospedado na casa de parentes. Era um primo de terceiro grau, muito hospitaleiro que pra felicidade dos turistas morava próximo dos cartões postais da cidade. Ele e seu primo, ambos solteiros, livres leves e soltos foram logo no primeiro dia à praia de Ipanema com o primo residente fixo fazendo às vezes de guia turístico. O mar bravo que estava... turistas disputando cada centímetro da areia tomada de guarda-sóis, chinelos e o sol no grau ideal para quem quisesse encobrir a palidez.
O moço franzino e pálido não gostava muito de sol, fresco que era e cheio de mimimi, era um gayzinho todo metido, sem ter onde cair morto. Já seu primo já era bem estabilizado e tinha várias casas alugadas na favela, quer dizer, na comunidade da Bacia povoada majoritariamente por conterrâneos seus do Piauí, lá da terrinha onde o mocinho mimimi sequer voltara depois que fixou-se em Sampa. Ele é daqueles que só por andar pelas ruas em seu ofício de office boy  sente-se pertencente à própria cidade, parte do mobiliário urbano, como um filho adotivo de Sampa... vai olhando os prédios, as centenas de lojas do Pari e ele contribuindo na sociedade.                                                                                                 Bom, mas ele estava no Rio de Janeiro aproveitando os últimos dias de férias. Muitos rapazes gays, creio que a maioria, perde-se totalmente nas questões de gênero, seu primo disfarça muito bem sua orientação sexual, já ele é só mimimi, tão delicado! Não posso omiti que o primo que reside no Rio, sofreu muito na adolescência e em adulto mesmo, era um homossexual que devido a inúmeras decepções acabou por abandonar suas práticas homossexuais (glória a Deus) e casou-se com uma mulher com quem teve três filhos!  Este, disse aos turistas que é muito simples: “está tudo aqui ó, na cabeça.”  Pense, logo mude seus gostos, suas intenções, seus princípios... Ao passar uma jovem conhecida sua ele demonstrou atitudes típicas de um macho: “olha, aquilo que é coisa boa.” Meu CU! Opa ,não estou na história, que ultrapassagem descabida seu narrador de merda.

Esquecendo de contar que logo ao chegarem na praia o primo- que disfarça-bem disse ao franzino: Manu nós duas mergulhamos e o Chagas olha nossas coisas. Então Chagas teve um sobressalto! Nós Duas não, nós dois rapaz! Eles (elas) não seguraram o riso. Imaginem, com bichices na frente de um ex (?) gay. Loucas mesmo, só podem... e os outros conterrâneos a comentar, as línguas ferinas, dizendo que os Chagas era viado porque estava com os primos de São Paulo que gostavam de homens. Quase que eles ofenderam os turistas com esses comentários o franzino fazia que cagava montanhas para o que falavam... essas bicha são terríveis. Lá iam ligar para os conterrâneos que eram tudo pobre igual eles. Eram tudo lavadores de pratos, porteiros, zeladores... logo o mimimi que era formado e tudo... tá boa! Ela tava era se achando a própria garota de Ipanema afinal, come disse o primo ex- gay: Tá tudo na cabeça meu amor.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Morte e vida almodovariana

Penélope Cruz  em cena deVolver, filme almodovariano
Volver é um filme de 2006 do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Nele, há todas as características que se tornaram marcas registradas do superestimado diretor: forte carga dramática, exposição do universo feminino demasiadamente, a temática da morte, além das famigeradas e já cantadas por Calcanhoto, “cores de Almodóvar”.
Em Volver, Penélope Cruz é Raimunda, uma mulher forte que guarda segredos do passado e vive às voltas com uma filha adolescente, um marido desregrado, uma tia idosa com a memória “daquele jeito” e uma irmã separada. Volver significa voltar em língua espanhola, e é quando Raimunda volta ao vilarejo onde nasceu, cujo lugar é caracterizado por habitantes supersticiosos, que acreditam que os falecidos rondam aquela região. Também nessa região, há fortes ventos que espalham incêndios e supostamente, contribuiriam para os desvios psicológicos de alguns habitantes. 
Logo na cena de abertura, vemos como Almodóvar constrói dramas inteligentes, aparentemente corriqueiros, como privilegia diálogos familiares, sempre através do olhar feminino, principalmente o maternal. De início, vemos que a morte é sempre uma razão definidora das atitudes dos vivos. Raimunda, a filha e a irmã Sole, zelam o túmulo que seria da mãe, logo em seguida visitam a tia idosa, é quando Sole, suspeita de outra presença no recinto. Apesar do cunho dramático, o humor, outra constante em Almodóvar, aqui aparece nos efusivos cumprimentos das mulheres e os exagerados beijinhos triplos, que chegam ao cúmulo da comicidade na cena de um velório.
A atuação da musa de Almodóvar, Penélope Cruz, dispensa apresentações,  ao dar vida a forte e bela Raimunda, uma mãe que no desenrolar da fita reconquista o amor da filha e o de sua própria mãe. Tudo num misto de drama e comicidade. E o que é a vida afinal? Almodóvar mais que ninguém sabe, ao lançar mão das situações mais comuns na vida de qualquer família, além de também abordar o social, ou seja, irrompe as casas e os dramas familiares, como vemos na escolha de qual disfarce estrangeiro seria adotado pela mãe de Raimunda e Sole, quando essa sai de sua condição de fantasma e retoma (sem dirigir palavras) o convívio social trabalhando no salão de beleza de Sole.

Trata-se de um dos melhores trabalhos de Almodóvar, a contar pela bonita história que resgata a importância da família, independente de quaisquer erro (s) os laços de sangue (cores de Almodóvar) são pra vida toda. É por amor que Raimunda livra a filha da culpa de um assassinato, além de poupar-lhe da traumática verdade sobre sua paternidade. E é por amor e redenção que sua mãe (Carmem Maura) assume a condição de fantasma para cuidar daqueles a caminho da morte. Aliás, mais como maneira de consertar erros do passado, o que segundo a doutrina espírita, é a razão dos mortos reencarnarem. Aqui, direto de Madri, Raimunda teve de “Volver” a uma cidade do interior, seu passado e seus traumas ressuscitando o que não estava de todo morto. Voltou para descobrir, junto a sua mãe os tortuosos e absurdos segredos do passado.