O ator francês Melvil Poupaud é laurence: determinada |
Laurence
anyways é o terceiro longa dirigido pelo “jovem” cineasta e ator canadense Xavier
Dolan (Amores imaginários). A referência jovem diretor, já é um clichê, pois o moço
chamou a atenção da crítica e de cinéfilos em geral logo em seu debut aos 19 anos, com o semi – autobiográfico “Eu matei
minha mãe”. Em seguida veio Amores imaginários, ainda exacerbando a beleza de
sua própria natureza privilegiada , apostando em trilhas sonoras
que vão do clássico ao indie, e também apresentando uma esplêndida fotografia .
Em
Laurence anyways, saem os arroubos exibicionistas (narcisismo, vasta bagagem
cultural) e entram o drama e por conseguinte, a essência das personagens, ou
seja, o roteiro ultra dramático permite que se extraiam atuações catárticas dos
atores, aqui isso fica a cargo de Melvil Poupaud, como Laurence “anyways” e
Suzanne Clemént, como Fred, esta entrega uma Fred arrebatadora, a qual lhe
rendeu prêmio em festivais e um novo filme de Dolan: Mommy. Bem, atendo-se ao
filme em questão, Laurence anyways é daqueles filmes surpreendentes, aborda um
tema comum, mas envereda por outra nuance: Laurence Alia é casado há dois anos
com Fred, e em seu aniversário de 30 anos revela à esposa que pretende assumir
uma identidade feminina, pois vivera uma mentira durante toda sua vida. O
choque é iminente a todos que recebem a notícia, porém, é no trabalho de
Laurence (professor universitário) onde ele é menos compreendido, resultando em sua demissão devido a queixas
formais de pais de alunos, uma vez que Laurence, num ato revolucionário assumiu
a sala de aula em trajes femininos, o que para a época remontada, o ano de
1989, era um tabu.
O
foco desse filme não é a transexualidade como estamos acostumados a ver,
Laurence anyways aborda a transgressão de gênero, mas não cai no debate
homossexual em si, pois a personagem de Melvil continua apaixonada pela esposa,
que no começo até o ajuda a assumir sua “nova” e verdadeira identidade, uma vez
que Fred com sua cabeleira vermelha e amor pelo marido o tenta compreender, chegando a
explodir em sua defesa na cena em que
uma garçonete lhes vem com inconveniência a respeito da transexualidade de
Laurence, ou seja, sai a Fred “jovem descolada” dando a vez para a esposa que
tem seu ideal de marido caído por terra, o homem másculo ficara para trás,
cabendo a ela decidir até onde seguir ao lado de Laurence. Por isso a explosão
em público, o “foda-se!” Quem sabe o que a própria está sentindo senão apenas
ela? Como se dão o direito de julgar o comportamento alheio?
Suzanne Clemént divando |
Talvez
às duas horas e meia de duração do filme canse alguns, mas é inegável a
criatividade desse trabalho, a “revolução” de Laurence Alia perante uma
sociedade despreparada para o diferente o “especial”, que de tão especial
transforma-se num estereótipo, só pra lembrar a desculpa dada por aqueles que o
demitiram, ou seja, para pessoas anti- convencionais há atividades específicas,
como a dizer que os gays trabalham como maquiadores, cabelereiros, por exemplo.
No caso de Laurence, sua demissão possibilitaria o tempo para desenvolver a
escrita, o que aconteceu: ele se dedica a escrever seu livro e ao finalizar,
envia um exemplar a Fred que ao receber nos brinda com uma arrebatadora “cascata
emocional.” Certamente há várias cenas que ficarão na memória do espectador,
tamanho é o afinco visual empregado por Dolan, como na festa em que Fred faz a
Claudia leite e extravasa toda num decote em V, só no glamour ofuscando tudo e
todos.
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