terça-feira, 10 de novembro de 2015

A linguagem sexual


André Sant'Anna: humor ácido pra todos os lados.

Ler Sexo, da autoria de André Sant’Anna é entrar em contato com um universo previsível e animalesco tal como o conhecemos. Isso, porque o elemento que domina todas as personagens é o sexo. E para narrar as aventuras sexuais de seus personagens, André Sant’Anna utiliza inúmeros recursos estilísticos que tornam essa narrativa uma obra, onde ora é o humor que sobressai, devido o absurdo, o abjeto inscrito na caracterização das personagens, ora a repetição de alguns termos, sobretudo a própria designação das personagens, daí temos: o Executivo de Óculos Ray - Ban, A Secretária loura, Bronzeada Pelo Sol, A Gorda Com Cheiro de Perfume Avon, O Adolescente Meio hippie, entre outras.
Por vezes, pode-se pensar que o nível social das personagens interfere nas relações sexuais das mesmas. Sexo e poder formam uma bela combinação, não? Em Sexo, o poder econômico, assim como é na vida real, é garantia de uma vida sexual satisfatória, personagens como  O Executivo de Óculos Ray - Ban “sempre fazia sexo com secretárias louras”, ao passo que O Negro Que Fedia, e era faxineiro, “não fazia sexo há muito tempo”. No entanto, esse viés atinge o cúmulo do patético na descrição minuciosa e “no popular mesmo” do ato sexual entre O Jovem Executivo De Gravata Vinho e Listras Diagonais Alaranjadas e sua Noiva Loura, Bronzeada Pelo Sol e também, entre O Jovem Executivo De Gravata Azul Com Detalhes Vermelhos, e sua respectiva Noiva Loura, Bronzeada Pelo Sol. Ambos os “Jovens Executivos” foram extremamente bruscos e dominadores, deixando-as magoadas. E haja imaginação para descrever a relação sexual, além do que ela é mesmo, ou seja, André Sant’Anna criou personagens vários, e a cada um deles atribuiu uma respectiva maneira de vivenciar o sexo de acordo com a cultura vigente no espaço-tempo da personagem. Doravante tem-se o adolescente cheio de neuroses e até uma  Apresentadora Do Programa de Variedades Da Televisão e um pop star do reggae, O Negro Que Não Fedia, estes são descritos envoltos numa aura poética, a Apresentadora e sua performance sexual são atribuídos adjetivos como: resplandescente, extasiante, sublime, etc. Esse enlace até , “poderia fazer parte de um moderno ensaio fotográfico erótico em preto e branco, digno dos mais sensíveis fotógrafos de arte.” (p. 85). Me veio a mente Seal e Heidi Klun no clipe de Secret. Somente especulação, claro já que o clipe é recente se comparado ao lançamento de Sexo há mais de uma década atrás.
Para muitos estudiosos e críticos literários, André Sant’Anna é um transgressor, ou, pelo caráter de denúncia de suas narrativas, um hiper-realista. Sexo, pode soar um absurdo para quem espera por “palavras sutis ou requintadas” (em André Sant'Anna?) e sofreu o choque com o despudor levado a enésima potência das narrativas. Entretanto,  o compromisso com a oralidade e com a representação mimética da realidade, tornam a classificação “hiper-realista” assertiva, embora Sexo comporte uma escritura com inúmeras vertentes a serem exploradas, tamanho é o afinco e domínio extremo do narrador, este mesmo não criando uma narrativa linear, detém total controle sobre suas personagens, sempre trazendo-as à cena a seu bel prazer e deleite do leitor. 


  

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