Muitos não
conseguem entender a literatura de Clarice, apesar da mesma usar uma linguagem
simples. Para esses leitores uma leitura estimulante deve conter no mínimo fatos.
Fator ausente no romance clariceano, uma vez que a autora mesmo criando
personagens com suas peculiares
características, o que prevalece são as suas impressões existenciais. A
realidade adivinhada. O pensamento sagaz. As agonias que insistem em surgir em
momentos de pura contemplação provocando uma revolução no que estava “falsamente”
sob controle.
Imagino que
a “pessoa” Clarice Lispector fora muito sozinha. Seus livros são perturbadores à
medida em que lemos passagens sobre “O deus”, sobre as várias vezes em que se
morre e também quando Clarice criou uma das suas personagens mais emblemáticas:
Macabéa, que mal tinha consciência de existir. São aspectos que revelam “um olhar
diferenciado” sobre o ser humano e sobre a própria linguagem. Clarice
transborda poesia pura em muitos excertos. Fruto da sua alma sensibilíssima e inquieta
em decifrar o que há em nossos recônditos.
É
necessário várias leituras de um romance clariceano. Qual profundo é o mergulho
nos “estados d’alma” que Clarice proporciona. Não que a autora fosse alheia à
realidade, longe disso. Na verdade Clarice internaliza os acontecimentos de
maneira a “cavar” o cerne dos mesmos. Qual a razão disso? Então é assim? Nas
palavras da própria: “não há pessoas que costuram para fora? Eu costuro para
dentro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário