sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mas e a alma?

             Entre vários filmes que aluguei nessas férias, um em especial, emocionou-me de tal maneira, que lágrimas rolaram no decorrer da história. Trata-se de "Não me abandone jamais" ( never let me go). Baseado no romance de Kasuo Ishiguro que aborda a clonagem. Não mostrando o processo de criação dos clones, e sim focando no uso dos órgãos dos mesmos, como alternativa  pra prolongar a vida humana neste plano terrestre.
              O filme narra o dia- a -dia de crianças em um tradicional orfanato inglês. Elas vivem sob o regime de internato, têm aulas, praticam exercícios, cantam e são estimuladas a crescerem saudáveis. Entretanto o destino delas não será sair de lá pra ocupar algum cargo na sociedade. Pois eles são clones destinados a serem doadores de órgãos quando chegarem à fase adulta. Desde cedo eles foram sujeitos à regras como não se aproximar de maneira alguma, da cerca que protege o orfanato sob pena das mais terríveis ameaças. Até de morte. De modo que eles não conhecem a vida fora do internato. E justamente, é angustiante a cena em que, uma nova tutora, que tendo apego às crianças, em um momento de fúria dispara: " Nenhum de vocês vai para à América. Nenhum de vocês vai trabalhar em mercados.Nenhum de vocês vai ser motorista. Nenhum de vocês vai fazer coisa alguma, exceto seguir a vida que foi escolhida para vocês. Vocês vão se tornar adultos, mas por pouco tempo. Antes de envelhecerem, vocês vão doar seus órgãos vitais. E depois da terceira ou quarta doação a vida de vocês vai se completar. Após isso, ela é demitida.
           
            Os personagens principais do filme são: Kathy, Ruth e Tommy, que na fase adulta são interpretados respectivamente por Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield. E além do destino cruel desses personagens, vemos o amor de Kathy por Tommy ser impedido pela inveja de Ruth que o seduz primeiro. Mas logo que Ruth tem consciência de sua morte ela tenta reparar o erro. Ela descobre um lugar onde há uma prorrogação do tempo de vida se um casal provar que se ama. Sentimento que há entre Kathy e Tommy. Mas seria compreensível um "não humano" amar? Por mais que Tommy, Kathy ou Ruth expressem qualquer emoção, através de desenhos ou outras atitudes, nada ultrapassa a realidade deles: São clones destinados a salvar vidas. Numa cortante cena, Ruth questiona a procedência deles. Para ela, só podem ser clones da escória da humanidade.
            É realmente um filme tristíssimo. A solidão de Kathy. A inocência demasiada das crianças que são estimuladas a desenharem pra ver se possuem uma "alma". E o pior: a terrível aceitação de um destino implacável. Tudo contado pela personagem Kathy, em mais uma interpretação magnífica de Carey Mulligan.

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