sábado, 5 de dezembro de 2015

"Causos" Cariocas

Estreia ficcional de Fernanda Torres, a capa é solar, a narrativa é notívaga.


A literatura brasileira feita por mulheres ganha mais um nome de peso, falo de Fernanda Torres, personalidade muito conhecida pela eficiente carreira na TV, teatro, além da colaboração em veículos jornalísticos, como a Folha de São Paulo e a revista Piauí. Fernanda lançou há dois anos, seu primeiro romance intitulado Fim, no qual aborda dentre vários aspectos, a morte (daí o título), os maus- costumes de uma classe média dos anos setenta- oitenta, ou seja, as personagens de Fim, sobretudo os cinco homens: Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro, são protagonistas de uma série de amores fulminantes, paixões avassaladoras e de uma efervescente liberação sexual. Cada um à sua maneira, na mútua convivência compartilhava um hedonismo regado a noitadas, drogas e sexo sem compromisso tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro.
O primeiro capítulo é iniciado, em primeira pessoa, por Álvaro, dos cincos o que morrera por último. Este, agora acometido pelas mazelas trazidas pela velhice, rememora, apresentando um rápido perfil ao leitor, a última vez em que viu os quatro amigos. Ranzinza, pessimista, põe-se a reclamar das calçadas esburacadas, dos cachorros da vizinha e da sua vida, a menos interessante dos quatro homens, posto que fora um brocha, a ponto de ser corneado e depois abandonado pela mulher, Irene. Ressalto, que apesar do enfoque ser nos cinco amigos, as personagens secundárias, não são menos interessantes. Constam aí Irene, ex- esposa de Álvaro; Ruth, uma romântica incurável, que embalava Dolores Duran numa entrega fascinante o bastante para atrair Ciro, o mais safado e ordinário dos cinco, o típico conquistador barato. Casou-se com Ruth, mas esta esquecera que “só se ama aquilo que não se tem”. Fora amada por Ciro, até a relação cair no comodismo e o encanto esvair-se a ponto deste reconhecer essa relação, num casal que fazia sexo inúmeras vezes, da forma mais mecânica possível, certa vez ao frequentar um inferninho. Outra personagem interessante é Célia, esposa de Neto, uma típica suburbana, assim como tantas que vemos por aí até hoje, que fazem cara feia para as modalidades ultra- modernas, para as pessoas descoladas.
A linguagem de Fernanda é simples, direta, porém o engendramento de Fim constitui-se, numa crescente explanação dos “causos”, ou seja, as personagens são apresentadas (os principais em primeira pessoa) à medida que um interferiu na vida do outro. Tem-se uma sequência de perfis de familiares, órfãos, viúvas, um bizarro padre, etc, tudo narrado às vezes de forma irônica (ecos machadianos), e também de forma leve, reflexos de seu trabalho como cronista, o que corrobora para a criação de uma narrativa rápida, mas não menos densa. A própria temática da morte serviu de pretexto para narrar a intensidade da vida, esta, pulsante, com a libido a todo vapor, burlando a moral e os bons costumes de uma burguesia carioca do século passado. E assim como os burgueses, artistas e personalidades cariocas, agora, os cinco amigos encontram-se num mesmo lugar: o cemitério da zona sul, São João batista.


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