Estreia ficcional de Fernanda Torres, a capa é solar, a narrativa é notívaga. |
A
literatura brasileira feita por mulheres ganha mais um nome de peso, falo de
Fernanda Torres, personalidade muito conhecida pela eficiente carreira na TV,
teatro, além da colaboração em veículos jornalísticos, como a Folha de São
Paulo e a revista Piauí. Fernanda lançou há dois anos, seu primeiro romance
intitulado Fim, no qual aborda dentre vários aspectos, a morte (daí o título),
os maus- costumes de uma classe média dos anos setenta- oitenta, ou seja, as
personagens de Fim, sobretudo os cinco homens: Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e
Ciro, são protagonistas de uma série de amores fulminantes, paixões
avassaladoras e de uma efervescente liberação sexual. Cada um à sua maneira, na
mútua convivência compartilhava um hedonismo regado a noitadas, drogas e sexo
sem compromisso tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro.
O
primeiro capítulo é iniciado, em primeira pessoa, por Álvaro, dos cincos o que
morrera por último. Este, agora acometido pelas mazelas trazidas pela velhice,
rememora, apresentando um rápido perfil ao leitor, a última vez em que viu os
quatro amigos. Ranzinza, pessimista, põe-se a reclamar das calçadas
esburacadas, dos cachorros da vizinha e da sua vida, a menos interessante dos
quatro homens, posto que fora um brocha, a ponto de ser corneado e depois
abandonado pela mulher, Irene. Ressalto, que apesar do enfoque ser nos cinco
amigos, as personagens secundárias, não são menos interessantes. Constam aí
Irene, ex- esposa de Álvaro; Ruth, uma romântica incurável, que embalava
Dolores Duran numa entrega fascinante o bastante para atrair Ciro, o mais
safado e ordinário dos cinco, o típico conquistador barato. Casou-se com Ruth,
mas esta esquecera que “só se ama aquilo que não se tem”. Fora amada por Ciro,
até a relação cair no comodismo e o encanto esvair-se a ponto deste reconhecer
essa relação, num casal que fazia sexo inúmeras vezes, da forma mais mecânica
possível, certa vez ao frequentar um inferninho. Outra personagem interessante
é Célia, esposa de Neto, uma típica suburbana, assim como tantas que vemos por
aí até hoje, que fazem cara feia para as modalidades ultra- modernas, para as
pessoas descoladas.
A
linguagem de Fernanda é simples, direta, porém o engendramento de Fim
constitui-se, numa crescente explanação dos “causos”, ou seja, as personagens
são apresentadas (os principais em primeira pessoa) à medida que um interferiu
na vida do outro. Tem-se uma sequência de perfis de familiares, órfãos, viúvas, um bizarro padre, etc, tudo narrado às vezes de forma irônica (ecos machadianos), e também de
forma leve, reflexos de seu trabalho como cronista, o que corrobora para a
criação de uma narrativa rápida, mas não menos densa. A própria temática da
morte serviu de pretexto para narrar a intensidade da vida, esta, pulsante, com
a libido a todo vapor, burlando a moral e os bons costumes de uma burguesia
carioca do século passado. E assim como os burgueses, artistas e personalidades cariocas, agora, os cinco amigos encontram-se num mesmo lugar: o cemitério da zona sul, São João batista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário