domingo, 25 de agosto de 2013

Sei que há

         Era sexta à noite. Recostei-me no alpendre e avistei uma lua pra lá de cintilante. Mal pude acreditar no muito que me foi dado naquele momento. A luz lunar, mesmo que emprestada deu asas aos meus anseios. Uma leve brisa soprou-me à face embebida na vertigem momentânea. Eu era um romântico. Longos minutos passaram. Na rua, poucas motos corriam. Poucos carros. Aquela hora já era um chamado do sono. Sono, que eu recusara a obedecer e recorri a um café forte para prolongar a embriaguez daquele instante.
         Aos poucos, fui recobrando a insossa realidade. O pesar das horas já estava à espreita. Voltei aos livros. Mas antes, tentei recriar na memória aquele momento do deslumbre ao luar. Tão distante ela estava, mas significava tanta beleza eterna. Ela que só tem quatro faces e mantem o esplendor de sempre. Enquanto nós, reles mortais, desdobramo-nos à procura de novos estilos e maneiras de conservarmos a juventude. Alguns gabam-se de se entregar as efemeridades do mundo moderno. Já disse Drummond: "eta vida besta meu deus." Pois não é? Ainda morrerei dessa ponta de recalque. Eu moderno? Só que não.
         Acho que no momento lunar entrei no "estado de graça". Ou seja, num estado em que não desejamos mais nada, pois nesse momento se tem uma sensação indescritível de plenitude. E também, refere-se a um momento individual de realização. Ao contrário dos momentos felizes que compartilhamos com terceiros. Talvez, seja um imenso consolo aos solitários. Nunca ouvi falar que outras pessoas consigam sentir-se felizes com uma simples constatação de algo natural como um luar. Se bem, que a lua já é famosa até demais. Basta lembrar da música "Luar do sertão" e suas inúmeras gravações. Mas eu estava em plena São Paulo cinza, no "meu apartamento perdido na cidade". A São Paulo dos 1001 entretenimentos. Se existe amor aqui, eu não tive. Mas sei que tem. Por enquanto, estou a zero, ou seja, sem inspirações amorosas. Há tanta coisa pra fazer.

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