domingo, 6 de setembro de 2015

Impressões sobre "Que horas ela volta?"

Nesse feriado, aproveitei para conferir o premiado filme “Que horas ela volta?”, estrelado por Regina Casé (ixxxxqueaanta) e dirigido e roteirizado por Ana Muylaert, que ao que parece, será um sucesso de bilheteria por aqui devido ao roteiro que aborda importantes questões sociais, tão em voga ultimamente, e às interpretações de Regina Casé e Camila Márdila, que foram agraciadas no festival de Sundance dividindo o prêmio de melhor atriz.
“Que horas ela volta?” aborda, entre outros temas, a relação patrão e empregado, os limites estabelecidos há décadas que acarretaram nas desigualdades sociais como bem conhecemos. Val (Regina Casé) deixou Pernambuco para viver em São Paulo onde conseguiu um trabalho de babá e doméstica num bairro nobre. Lá, ela desempenha sua função com uma submissão de tal modo que acaba supostamente inserida como parte da família, inclusive por ter desenvolvido uma grande afeição por Fabinho, de quem foi babá. No entanto, Val representa o ideal antigo de servidão, de segregação social, o que é abalado quando sua filha que ela não via há dez anos vem a São Paulo prestar vestibular. Os espaços começam a ser questionados por Jéssica (a filha), uma vez que a mesma pretende cursar arquitetura, e não esconde o incômodo pelo fato da mãe se contentar com um minúsculo quarto de empregada e receber ordens a todo instante.
A interpretação de Regina é um misto de drama e comédia, esse último é oriundo tanto da incorporação dos traços nordestinos as expressões, sotaque, gesticulações, como também pelo próprio ethos da personagem que caracteriza objetivamente o ideal daqueles que seguem fieis aos seus princípios, suas origens, que não questionam valores sociais, apenas se inserem numa categoria estabelecida que veladamente, acaba por ser excludente e acentua os preconceitos e desigualdades. Tal qual a reação de sua patroa , quando sua filha se mostra confiante para prestar uma prova, onde as chances de um pobre ser aprovado são mínimas. A Madame,  exprime um desdenhoso: “ é, o país tá mudando” ao passo que a autonomia de Jéssica atrai a atenção de seu esposo e do filho, de quem Val fez o papel de mãe.
O título “Que horas ela volta?” corresponde à ausência das mães biológicas, Jéssica foi criada longe de Val, que por sua vez criou Fabinho e teve que responder diversas vezes quando a criança indagava pela mãe, que assim como Val, o trabalho não possibilitaria a proximidade com seu rebento, embora com as imensas diferenças designadas pelo nível social de ambas. “Que horas ela volta?” é o tipo de filme que, certamente agrada e também provoca afrontas, pois cutuca aqueles que são contrários a quebra de antigos paradigmas, principalmente no quesito “nova classe social” ou classe emergente, representada na fita por Jéssica que acredita na mudança e que o proletariado pode e deve conquistar um espaço maior.    


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