Nesse
feriado, aproveitei para conferir o premiado filme “Que horas ela volta?”, estrelado
por Regina Casé (ixxxxqueaanta) e dirigido e roteirizado por Ana Muylaert, que
ao que parece, será um sucesso de bilheteria por aqui devido ao roteiro que
aborda importantes questões sociais, tão em voga ultimamente, e às
interpretações de Regina Casé e Camila Márdila, que foram agraciadas no
festival de Sundance dividindo o prêmio de melhor atriz.
“Que
horas ela volta?” aborda, entre outros temas, a relação patrão e empregado, os
limites estabelecidos há décadas que acarretaram nas desigualdades sociais como
bem conhecemos. Val (Regina Casé) deixou Pernambuco para viver em São Paulo onde
conseguiu um trabalho de babá e doméstica num bairro nobre. Lá, ela desempenha
sua função com uma submissão de tal modo que acaba supostamente inserida como
parte da família, inclusive por ter desenvolvido uma grande afeição por
Fabinho, de quem foi babá. No entanto, Val representa o ideal antigo de
servidão, de segregação social, o que é abalado quando sua filha que ela não
via há dez anos vem a São Paulo prestar vestibular. Os espaços começam a ser
questionados por Jéssica (a filha), uma vez que a mesma pretende cursar arquitetura,
e não esconde o incômodo pelo fato da mãe se contentar com um minúsculo quarto
de empregada e receber ordens a todo instante.
A
interpretação de Regina é um misto de drama e comédia, esse último é oriundo
tanto da incorporação dos traços nordestinos as expressões, sotaque, gesticulações,
como também pelo próprio ethos da personagem que caracteriza objetivamente o
ideal daqueles que seguem fieis aos seus princípios, suas origens, que não
questionam valores sociais, apenas se inserem numa categoria estabelecida que
veladamente, acaba por ser excludente e acentua os preconceitos e
desigualdades. Tal qual a reação de sua patroa , quando sua filha se mostra
confiante para prestar uma prova, onde as chances de um pobre ser aprovado são
mínimas. A Madame, exprime um
desdenhoso: “ é, o país tá mudando” ao passo que a autonomia de Jéssica atrai a
atenção de seu esposo e do filho, de quem Val fez o papel de mãe.
O
título “Que horas ela volta?” corresponde à ausência das mães biológicas,
Jéssica foi criada longe de Val, que por sua vez criou Fabinho e teve que
responder diversas vezes quando a criança indagava pela mãe, que assim como
Val, o trabalho não possibilitaria a proximidade com seu rebento, embora com as
imensas diferenças designadas pelo nível social de ambas. “Que horas ela volta?”
é o tipo de filme que, certamente agrada e também provoca afrontas, pois cutuca
aqueles que são contrários a quebra de antigos paradigmas, principalmente no
quesito “nova classe social” ou classe emergente, representada na fita por
Jéssica que acredita na mudança e que o proletariado pode e deve conquistar um
espaço maior.
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