sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Respeitável Público!


         Na coletânea de ensaios A civilização do espetáculo, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, expõe um grande inconformismo acerca da atual situação mundial no que se refere à criação de valores,  e a todas as formas de culturas assimiladas em todos os cantos do mundo. A literatura e outras expressões artísticas, a religião e também o sexo, são aspectos analisados por Mário sob um viés pessimista e desesperançoso.
       A civilização do espetáculo, segundo Mario Vargas llosa, é a sociedade que prioriza o entretenimento a qualquer custo. Que prefere quantidade à qualidade. O que seria um dos fatores negativos da globalização que possibilita o fácil acesso a produtos culturais pelas massas. O autor exemplifica, argumentando que a simples visita a um museu, por quem antes não tinha condições, não significa que seja realizada com o intuito de conhecer o valor artístico ali presente, mas apenas para ser visto em lugares cultuados. Estudar, buscar reconhecer a origem de um patrimônio cultural é algo que demanda esforço, rigor analítico, fatores que “a civilização do espetáculo” procura não disseminar pelas próprias massas, que nas últimas décadas sentiram-se incluídas na sociedade devido ao aumento do poder de consumo.
       Essa disposição ao entretenimento acima de tudo, é nocisa a toda atividade com intuito de grandeza, de perpetuação no tempo. São provas disso o sucesso atribuído a livros de subliteratura vampiresca, que são lançados em série sob o aval de um marketing ferrenho. E não tarde são substituídos por outro e outra modinha da vez. O mesmo se aplica à música, aos filmes hollywoodianos e, também as telenovelas brasileiras (bestiais a mais não poder), que
são citadas nesse ensaio llosiano como exemplos da decadência artística. Marca preponderante de nosso tempo, assim como a tendência ao exibicionismo em detrimento da vida privada, que é um direito de todo indivíduo que preze pela ética e o respeito da liberdade individual. Aliás, esse exibicionismo exacerbado resvala noutra característica “espetacular”: o desaparecimento do erotismo. Sexo, outrora tabu, agora é assunto corriqueiro e atividade mecânica. Uma rasteira da liberdade alcançada nos últimos tempos! Acabou o desejo velado; O pudor que aguça e termina-se por atingir orgasmos significantes ao conseguir o ato desejado. A pornografia, como sabiamente aponta Llosa, animaliza esse ato tão extasiante que é o sexo.

       Esses ensaios são leitura obrigatória para qualquer leitor, sobretudo aqueles que ainda não perceberam a gravidade em que estamos imersos. Não raro ouvimos exclamações saudosistas: “Bom era no meu tempo”. Não é uma simples saudade da juventude perdida. É que estamos em tempos saturados e insípidos mesmo! Queria não concordar com o pessimismo de Llosa, mas a realidade está a nossa frente. 

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