Há
um dito popular que apregoa “não julgar um livro pela capa”, no entanto, se o livro
em questão for A Teia de Germano, de Roberto Muniz dias, esse dito revela-se
totalmente descabido, pura falácia. A imagem da capa compõe-se de um mural de
correspondências, algumas até sobrepostas a outras, tendem a incutir a ideia de
que o conteúdo dessa obra seja um conjunto ordenado de diversas cartas, ou
seja, a teia a qual o título alude. Todavia, de que forma esse conjunto (a
teia) é engendrada? Que o leitor se prepare para adentrar numa teia instigante,
intensa e que uma vez imerso nela, não há como desprender-se sem compartilhar
das angústias e buscas das personagens.
O
cerne dessa narrativa é uma teia oriunda de um personagem de uma importante
obra: “Ilusões da grandeza humana”, que tem Germano como personagem que se
desenvolve à medida em que flui o enredo da referida obra de autoria de “Erich H.
Writ”. Isso mesmo, A teia de Germano é composta por uma intensa exploração da
metalinguagem, como bem observou o jornalista Ben Oliveira. Por isso a opção
pela ficção dentro da ficção, ou melhor,
ficções, cada uma com seu respectivo grau de intensidade e reflexão. A premissa
soa simples, um excêntrico e renomado escritor, Erich, incube a um “escritor de
um livro só”, Lúcio, que se encarregue de suas memórias, entretanto, ao passo
que este analisa cartas, fotografias e recorda os três romances aclamados de
Erich para escrever sua biografia, envolve-se de maneira obsessiva com os fatos
suscitados pelas vivências do outro ( Erich) que começa a enclausurar-se e
viver sob a tormenta do seu próprio e traumático passado de abandono.
Lúcio,
é o personagem mais angustiante dessa narrativa. Impossível não se sentir tocado
pela melancolia que o acompanha em sua posição existencial indefinida, alocada entre o
presente e o passado. Numa tentativa de fundir os dois, além de sua insana busca pela essência das coisas tal
qual, as passagens em que adquire uma vitrola para resgatar um hábito que fora
de seu pai. O que é “vivenciado” de forma ritualística, na verdade, Lúcio fez
de sua vida um ritual em todos os aspectos, sobretudo nos momentos de solidão
em que ele é mais depressivo que a burguesa G.H. e sua comunhão com a barata.
Lúcio, entra em comunhão com os inúmeros
relatos que lhe vieram, das estórias ouvidas na infância, passando por Moby
Dick, até Ilusões da Grandeza Humana, obra que lhe apresentou Germano e claro,
os clássicos da literatura universal.
Devo
ressaltar que A Teia de Germano consiste em bem mais que a reconstituição de
uma vida, de um autor e suas obras (Erich H. Writ e sua literatura) através de
Lúcio. Aparecem outras personagens importantes que foram envolvidas ou
influenciadas por Germano, como Isadora, um significativo caso amoroso de
Erich, além de Isabela, a agente literária que pouco aparece na narrativa, mas
constitui “peça” fundamental para
compreendermos a formação dessa
intricada e envolvente teia. A literatura de Roberto Muniz dias é um emaranhado
de sensações, descobertas e movimentos que nos revelam um penetrante olhar para
o que somos e por quê?
Releio a análise de Eduardo Eulalio e constato o que melhor tentei extrair de minhas ideias narrativas. Fico excitado com o jogo intricado que criei usando as personagens e "minha" avidez para aprender Filosofia. É denso. Criei Lúcio e Germano como se fossem um só, mas cada um a seu tempo (re)criando suas histórias como se fossem apenas um leitmotiv.
ResponderExcluirTomei Germano emprestado para a peça Raroquerer Haraquiri como se fosse uma figura estranha, alheia a sua própria sexualidade - tanto que não revelo o gênero da criatura que se relaciona com ele, é irrelevante.
É, ninguém me pediu para eu falar algo sobre este livro, mas ele veio mexer de novo comigo. E ele mexe muito comigo!