terça-feira, 23 de junho de 2015

Noite à la Almodóvar

Rossy de Palma: uma das musas de Almodóvar

      Era a festa de um quase amigo, pensei várias vezes se iria ou não. Fui, frio que fazia de típico junho paulistano. Fui com um amigo que levara mais dois: um amigo seu, quase um irmão e a travesti  Verônica Boderline, com toda a empáfia de quem vive cheia de sí, assim como se é mesmo. Ela, que aparentava bem menos que os quase cinquenta, com seus negros cabelos e boca vermelha ofuscara todos os minguados passageiros do ônibus.
      Tímido que sou, ainda mais na presença de dois desconhecidos, senti-me acuado. Devido a isso, ou afasto as pessoas ou me torno presa fácil, ou seja, provocam-me até minha faces ficarem coradas. Como naquela balada, onde eu quase não dançava e resolveram me levantar e me jogar igual acontece naqueles shows loucos nos EUA. Pois, estava mortificado no banco do ônibus quando Verônica Boderline levantou do seu, aproximou-se de mim esfregando sua prótese no meu rosto e disse: -" eu sou uma profissional do sexo. Compreta." Mas não corei, porque estava entre amigos, então fingi um sorriso, o que não me é difícil. Até porque em tempos de pressão da bancada evangélica, vou para o lado das LGBTT, é claro! Pois Verônica Boderline, era só sorrisos e travestices para os passageiros que lhe interessavam.
      Chegando à festa, senti-me totalmente deslocado e o substituto para as atitudes ali era o cigarro. Claro! Levara poucos, mas logo viriam as bebidas e tudo se tornaria suportável. Festa de periferia eu (preconceituosamente) resumo em: música ruim; pessoas “ que pensam que tem estilo” mas são bregas; narguilé e muita cerveja. Entretanto as cervejas fizeram efeito em mim embalado pelo tribal house que tocava, eu me soltei. Então Verônica, que era só close e pose de Diva, resolveu me batizar: És Maria Catarina. Então fiquei sendo essa mesmo durante a festa toda. Logo mais chegaram mais duas montadas, o reinado de Verônica começava a entrar em declínio. Embora ela fosse mais bonita, apesar da idade, que as periféricas. Ela que era do Altos do Cangaíba, da parte nobre sim senhor.
Festa de povão (povinho?) prepare-se para ouvir o gosto musical de todo mundo. Quando estava empolgado com o house tribal, vinha um (a) excomungado e colocava o arremedo de música, a escória da sonoridade conhecida em nosso solo tupiniquim como funk. É demais presenciar espetáculo tão deprimente e primitivo, os manos, as gays, as minas e os requebros obscenos assim como as letras. Até a Verônica Boderline preferia as de balada, as house tribal. Bem, mas tinha a cerveja, os amigos que acabara de conhecer... as felicitações ao aniversariante...
       A festa prosseguia, Verônica bebendo demais, mexendo com os bofes... tirando foto com todos, e bebia... pois uma dada hora eu tinha encontrado alguém. Então fui curtir o momento... já sonho com outros momentos, com ele.  O amigo que me convidou passara mal, resolvera dormir na casa do anfitrião, fiquei então curtindo um insólito flerte e tou até hoje. Mas na festa a rolar, eu com o X nos “conhecendo”, sem sabermos que Verônica se metera em confusão e foi com as outras semelhantes suas, as disputas... há horas eu queria ir embora, falei para o X: -vamos embora. Então tínhamos que chamar os outros dois. Era o certo. A festa acabou. Verônica às quedas, isso porque não trajava tacón, tava de botas.
   
Game over, vamos pra casa. Fomos buscar nossos amigos. Tensão, as travestis esperavam Verônica na saída, ela teve de sair escoltada. Até porque ela não conseguia andar de tão bêbada. O anfitrião blasfemava contra as travestis: “-não fui eu quem chamou! Eu nunca que convido. É confusão na certa!” Fazer o quê?  E lá se vai eu a pegar no braço de Verônica , com minha voz mansa “vamos, olhe o degrau”. Ela a repetir Verônica Boderline é a tal. Tou bêbada e ótima! A trupe era de uns quatro homens e duas mulheres. Estas, ficaram atônitas quando Verônica resolveu “mijar” na rua mesmo! Baixou tudo, a calcinha fio dental enfiada e o mijo a escorrer... A outra não aguentou: “olha o tamanho do pau dela!” Verônica não devia nada ao Kid Bengala. Fiquei a pensar... céus e se ela mijou na roupa e vai sentar na condução toda mijada...  todavia correu tudo bem, entramos nas três conduções, divididos entre os cuidados para com a embriagada e temerosos para com seus vexames.

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Um comentário:

  1. Olá Du, este e um belo caminho para aflorar o escritor que vive em ti. abraços

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