Rossy de Palma: uma das musas de Almodóvar |
Era a festa de um quase amigo,
pensei várias vezes se iria ou não. Fui, frio que fazia de típico junho
paulistano. Fui com um amigo que levara mais dois: um amigo seu, quase um irmão
e a travesti Verônica Boderline, com
toda a empáfia de quem vive cheia de sí, assim como se é mesmo. Ela, que
aparentava bem menos que os quase cinquenta, com seus negros cabelos e boca
vermelha ofuscara todos os minguados passageiros do ônibus.
Tímido que sou, ainda mais na
presença de dois desconhecidos, senti-me acuado. Devido a isso, ou afasto as
pessoas ou me torno presa fácil, ou seja, provocam-me até minha faces ficarem
coradas. Como naquela balada, onde eu quase não dançava e resolveram me
levantar e me jogar igual acontece naqueles shows loucos nos EUA. Pois, estava
mortificado no banco do ônibus quando Verônica Boderline levantou do seu,
aproximou-se de mim esfregando sua prótese no meu rosto e disse: -" eu sou uma
profissional do sexo. Compreta." Mas não corei, porque estava entre amigos,
então fingi um sorriso, o que não me é difícil. Até porque em tempos de pressão
da bancada evangélica, vou para o lado das LGBTT, é claro! Pois Verônica
Boderline, era só sorrisos e travestices para os passageiros que lhe
interessavam.
Chegando à festa, senti-me
totalmente deslocado e o substituto para as atitudes ali era o cigarro. Claro! Levara
poucos, mas logo viriam as bebidas e tudo se tornaria suportável. Festa de
periferia eu (preconceituosamente) resumo em: música ruim; pessoas “ que pensam
que tem estilo” mas são bregas; narguilé e muita cerveja. Entretanto as
cervejas fizeram efeito em mim embalado pelo tribal house que tocava, eu me
soltei. Então Verônica, que era só close e pose de Diva, resolveu me batizar:
És Maria Catarina. Então fiquei sendo essa mesmo durante a festa toda. Logo
mais chegaram mais duas montadas, o reinado de Verônica começava a entrar em
declínio. Embora ela fosse mais bonita, apesar da idade, que as periféricas.
Ela que era do Altos do Cangaíba, da parte nobre sim senhor.
Festa de povão (povinho?)
prepare-se para ouvir o gosto musical de todo mundo. Quando estava empolgado
com o house tribal, vinha um (a) excomungado e colocava o arremedo de música, a
escória da sonoridade conhecida em nosso solo tupiniquim como funk. É demais
presenciar espetáculo tão deprimente e primitivo, os manos, as gays, as minas e
os requebros obscenos assim como as letras. Até a Verônica Boderline preferia
as de balada, as house tribal. Bem, mas tinha a cerveja, os amigos que acabara
de conhecer... as felicitações ao aniversariante...
A festa prosseguia, Verônica
bebendo demais, mexendo com os bofes... tirando foto com todos, e bebia... pois
uma dada hora eu tinha encontrado alguém. Então fui curtir o momento... já
sonho com outros momentos, com ele. O
amigo que me convidou passara mal, resolvera dormir na casa do anfitrião,
fiquei então curtindo um insólito flerte e tou até hoje. Mas na festa a rolar,
eu com o X nos “conhecendo”, sem sabermos que Verônica se metera em confusão e
foi com as outras semelhantes suas, as disputas... há horas eu queria ir
embora, falei para o X: -vamos embora. Então tínhamos que chamar os outros
dois. Era o certo. A festa acabou. Verônica às quedas, isso porque não trajava
tacón, tava de botas.
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Olá Du, este e um belo caminho para aflorar o escritor que vive em ti. abraços
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