sábado, 21 de março de 2015

(Des)entendimento Titânico

                                                                                                          "Hoje é dia de rock bebê"
                                                                                                                     Cristiane Torloni
Falares e pesares convincentes

      Aos fãs do bom e velho rock and roll, uma boa dica é o álbum mais recente dos Titãs Nheengatu. A veterana banda apresentou um trabalho excepcional. O título "estranho" designa uma língua geral, que os jesuitas implantaram na interação com os índios no começo da colonização do Brasil. A lendária imagem da torre de babel na capa do álbum, já é um indício do que tematizará esse trabalho: uma confusão geral mediada pela lingua, ou seja, a avalanche de informações que nos bombardeiam ,bem como as cargas ideológicas em que em se sustentam os múltiplos discursos de poder. Para cantar o caos linguístico e consequentemente social, nada mais justo que as músicas contenham  o peso que só o rock pauleira imprime. 
     As canções de Nheengatu constituem verdadeiras crônicas da população urbana pós-moderna. Caótica, errática, enfim as farpas apontam pra todos os lados. Pra truculência da polícia em "fardado", a primeira faixa do álbum, o recado é direto: "porque você não usa essa farda pra servir e pra proteger". Entretanto, apesar de colocarem "os fardados" em seus devidos lugares, a única certeza que se tem é a morte implacável, e é sobre ela que versa "Cadáver sobre cadáver". Convivemos lado a lado com ela, já que estamos sob as ossadas dos defuntos, nesse belo planeta, esperando pela nossa vez (?) Ou seria "ela" que nos espera, como vemos nos versos de "Canalha" como "grito que se espalha", que "não tarda nem falha, apenas te espera". No que tange a confusão linguística, a mira dos Titãs aponta tanto para a verborragia medíocre e vazia,  proliferante em todos os níveis sociais (Fala Renata), quanto para as inúmeras polêmicas, causadas pela pretensão ao politicamente correto que emula a ditadura (Não pode). Nem mesmo o cristianismo escapou da metralhadora verbal da banda, em "Senhor" as orações são pela liberdade do ser humano neo-liberal e seus desejos, "demasiadamente humanos", que o cristianismo tanto aprisiona e condena. Os versos eclodem num cãntico herético: "O pão nosso de cada dia me dê de graça, assim na terra como no céu a mesma desgraça." 
      Bom, em vista dessas parcas informações acerca desse trabalho coeso, ousado que finalmente, fez jus à carreira da banda, só me resta afirmar ser esse álbum, indispensável aos apreciadores do rock nacional. Aumentem o som. 

P.S. não recomendo para pessoas muito delicadas, fresquinhas e fanáticas religiosas.

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