Adeus a Aleto = Olá! Boa literatura. |
Sempre tentando me interar, sobre bons autores literários da
contemporaneidade, eis que esbarro em Roberto Muniz Dias. Primeiramente, o que
me atraiu a lê-lo foi o flerte com a temática homoafetiva, também gostei do
título de seu primeiro romance: Adeus a Aleto. Adquiri a obra, entretanto, o adeus do título resultou numa experiência tão
fascinante quanto perturbadora.
Adeus a Aleto é uma obra difícil para
leitores medianos. Uma porque não se restringe à temática homoafetiva, como
imaginei. Outra, a obra não apresenta uma linearidade, tampouco é claro o que
foi vivido pelo narrador, quanto o que apenas imaginado. Senti-me lendo um
romance dentro da técnica e estilo clariceano. Certamente uma das influências
de Roberto Muniz Dias. Curiosamente, lembra muito Perto do Coração Selvagem por
duas razões: uma pelo fato do narrador relembrar sua infância, quando nasceu a
paixão por livros, ocorrida pela traquinagem do roubo de marca-textos. No
romance clariceano, Joana rouba um livro sem o menor arrependimento. Outro
detalhe “coincidente” é que Joana adulta revive “o fio da infância”; em Adeus a
Aleto, o narrador rememora os mais remotos acontecimentos, as descobertas do
dom para a fabulação, a descoberta do sexo, etc.
Outra razão que faz com que Adeus a
Aleto não seja tão palatável, é o resgate trazido pelo narrador, de obras clássicas
literárias, intercalando a criação literária deste, com citações, devidamente aspeadas, de tragédias gregas de Ésquilo. Há
também menções a clássicos como Otelo, A Divina Comédia, cujo contato, fez com que o
narrador de Adeus a Aleto, repensasse a noção de belo e seu oposto. Aliás, uma
das tônicas desse romance é a obsessão do narrador por Nikov, um enigmático
russo, descrito detalhadamente e de forma poética, como um Deus grego. Até
mesmo os impulsos sexuais do narrador, são relatados com uma sublimação que
torna o ato sexual num ritual de contemplação e torpor. Muito além, da
selvageria que uma entrega homoafetiva masculina costumeiramente significa.
Como atesta Nikov, sobre a literatura do escritor: “Sua poesia me fez gozar.”
Sim, o narrador dessa estória é escritor, e vive atormentado pelos seus
personagens, tanto que tira-lhes a vida, já que sua intuição literária, não
limita-se ao seu “ele mesmo”. Assim como Fernando Pessoa, esse escritor também
decidiu criar heterônimos, pois suas primeiras estórias, eram limitadas pelos “eufemismos”.
Precisava de mais liberdade para criar e também dar fim a seus personagens.
Muito mais que narrar experiências em
cidades como Amsterdã e Paris. Bem mais que relatar aventuras excitantes com
poesia, ou simples copulação. Adeus a Aleto constitui-se, de resquícios de um
passado marcante; da força das obras clássicas que definiram o homem, com tanta
eficiência, que o que vemos hoje já não nos impressiona. E claro, da capacidade
de criar, modificar-se, pela linguagem, buscando a poesia, mesmo abdicando de
eufemismos e dando um toque de realidade ao que se imagina e se quer criar. Imagino, logo vivo.
Nada mal para um autor, ainda, pouco conhecido como o piauiense Roberto Muniz
Dias.
Uma daquelas felicidades inefáveis. Daquelas que te deixa apenas admirando, como numa pintura.
ResponderExcluirMinha gratidão pela análise e de suas palavras tão azadas, certeiras, lisonjeiras.
Gostaria muito de falar-lhe com vagar e demoradamente, hehehe, por isso preciso entrar em contato com você urgentemente.
Aproveito para convidá-lo para conhecer um trabalho novo:http://www.wattpad.com/myworks
Olá! Que bom que gostou da "ronda" que fiz em seu ótimo livro. Tenho que reler. Tbm quero adquirir o Errorragia, pois adoro contos. Tenho certeza que os seus são surpreendentes. será um privilégio falar com vc. Meu email é: edu-offer@hotmail.com.
ResponderExcluirAbraços, de Eduardo Eulálio