sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um Gozo de Leitura

Adeus a Aleto = Olá! Boa literatura.
       Sempre tentando me interar,  sobre bons autores literários da contemporaneidade, eis que esbarro em Roberto Muniz Dias. Primeiramente, o que me atraiu a lê-lo foi o flerte com a temática homoafetiva, também gostei do título de seu primeiro romance: Adeus a Aleto. Adquiri a obra, entretanto, o  adeus do título resultou numa experiência tão fascinante quanto perturbadora.
       Adeus a Aleto é uma obra difícil para leitores medianos. Uma porque não se restringe à temática homoafetiva, como imaginei. Outra, a obra não apresenta uma linearidade, tampouco é claro o que foi vivido pelo narrador, quanto o que apenas imaginado. Senti-me lendo um romance dentro da técnica e estilo clariceano. Certamente uma das influências de Roberto Muniz Dias. Curiosamente, lembra muito Perto do Coração Selvagem por duas razões: uma pelo fato do narrador relembrar sua infância, quando nasceu a paixão por livros, ocorrida pela traquinagem do roubo de marca-textos. No romance clariceano, Joana rouba um livro sem o menor arrependimento. Outro detalhe “coincidente” é que Joana adulta revive “o fio da infância”; em Adeus a Aleto, o narrador rememora os mais remotos acontecimentos, as descobertas do dom para a fabulação, a descoberta do sexo, etc.

       Outra razão que faz com que Adeus a Aleto não seja tão palatável, é o resgate trazido pelo narrador, de obras clássicas literárias, intercalando a criação literária deste,  com citações, devidamente aspeadas, de tragédias gregas de Ésquilo. Há também menções a clássicos como Otelo, A Divina Comédia, cujo contato, fez com que o narrador de Adeus a Aleto, repensasse a noção de belo e seu oposto. Aliás, uma das tônicas desse romance é a obsessão do narrador por Nikov, um enigmático russo, descrito detalhadamente e de forma poética, como um Deus grego. Até mesmo os impulsos sexuais do narrador, são relatados com uma sublimação que torna o ato sexual num ritual de contemplação e torpor. Muito além, da selvageria que uma entrega homoafetiva masculina costumeiramente significa. Como atesta Nikov, sobre a literatura do escritor: “Sua poesia me fez gozar.” Sim, o narrador dessa estória é escritor, e vive atormentado pelos seus personagens, tanto que tira-lhes a vida, já que sua intuição literária, não limita-se ao seu “ele mesmo”. Assim como Fernando Pessoa, esse escritor também decidiu criar heterônimos, pois suas primeiras estórias, eram limitadas pelos “eufemismos”. Precisava de mais liberdade para criar e também dar fim a seus personagens.
       Muito mais que narrar experiências em cidades como Amsterdã e Paris. Bem mais que relatar aventuras excitantes com poesia, ou simples copulação. Adeus a Aleto constitui-se, de resquícios de um passado marcante; da força das obras clássicas que definiram o homem, com tanta eficiência, que o que vemos hoje já não nos impressiona. E claro, da capacidade de criar, modificar-se, pela linguagem, buscando a poesia, mesmo abdicando de eufemismos e dando um toque de realidade ao que se imagina e se quer criar. Imagino, logo vivo. Nada mal para um autor, ainda, pouco conhecido como o piauiense Roberto Muniz Dias.


2 comentários:

  1. Uma daquelas felicidades inefáveis. Daquelas que te deixa apenas admirando, como numa pintura.
    Minha gratidão pela análise e de suas palavras tão azadas, certeiras, lisonjeiras.
    Gostaria muito de falar-lhe com vagar e demoradamente, hehehe, por isso preciso entrar em contato com você urgentemente.
    Aproveito para convidá-lo para conhecer um trabalho novo:http://www.wattpad.com/myworks

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  2. Olá! Que bom que gostou da "ronda" que fiz em seu ótimo livro. Tenho que reler. Tbm quero adquirir o Errorragia, pois adoro contos. Tenho certeza que os seus são surpreendentes. será um privilégio falar com vc. Meu email é: edu-offer@hotmail.com.
    Abraços, de Eduardo Eulálio

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