domingo, 21 de julho de 2013

Maravilha para poucos

       Confesso que já fui mordido pelo bichinho do Rio. Toda a fama que a cidade possui com suas belezas naturais, há tempos chamaram-me atenção. Isso deve-se ao fato de tanto me deparar com o Rio, nas artes que aprecio. Muitos de nossos clássicos literários possuem narrativas passadas no Rio. Na música então, não faltam expoentes, de Cartola a Tom Jobim. Esse último recebeu uma linda homenagem, tendo canções suas interpretadas por Vanessa da Mata. Outra cantora que fez uma excelente canção em homenagem à cidade foi Paula Toller: Pane de maravilha é o amor declarado a uma cidade que, de fato, possui muitos encantos. Mas todos os encantos são capazes de fazer brotar no ser humano uma capacidade de viver pra construir uma “ Cidade maravilhosa” ?
         Parece um despropósito esse meu ângulo através do qual questiono. Óbvio que uma coisa é a cidade e suas paisagens com bairros bem construídos que agregam os que realmente vivem numa “cidade maravilhosa”. Aí vivem os globais, grandes empresários e parte da classe média. E bem do lado de cada bairro de bacana há uma enorme favela, com tudo o que há de peculiar nesses espaços. Ou melhor, não há nada que se possa chamar de maravilhoso. E sim tenebroso. O tráfico, o descaso com moradias dignas para seus habitantes, entre outros problemas que assolam o Rio de Janeiro. O que faz com que os privilegiados vivam numa bolha em relação a esse fator de favelamento, no qual a impressão que se tem é que tudo é “um mar de rosas”. Essa discrepância parece não interferir na boa convivência entre a elite da Zona Sul e os periféricos, que em sua maioria, geograficamente, nem estão localizados à margem da cidade. É uma questão de descaso com os valores humanos mesmo. Tantos casos trágicos, chacinas, turistas assassinados. E nenhuma medida tomada parece ser eficaz pra sanar esse emblema de criminalidade que fere o estigma de “Cidade maravilhosa”.

         Os frequentes protestos na cidade, comprovaram o óbvio: o descontentamento com os problemas que a maioria da população enfrenta (os manifestantes) e o fator que mencionei no começo: todos os encantos da cidade não são capazes de trazer para algumas pessoas, um olhar mais humano (vandalistas). Um olhar que agradecesse ao infinito, ou ao que se acredita. Por viver num lugar privilegiado por belezas naturais onde muitos homens souberam adornar com belas construções. Muitos monumentos históricos e tantos outros aspectos que inspiraram belas canções. Os homens que depredaram o Leblon, fizeram uso de violência. Essa selvageria é o cúmulo da falta de respeito com a população, com a cidade, e com o próprio indivíduo que não reconhece a dignidade da própria vida, ferindo-a, ao lançar mão da violência. O Rio, realmente deveria ser uma cidade maravilhosa. Essa maravilha bem que poderia transparecer num olhar das autoridades,  voltado para a população das favelas. Um olhar que deveria ser revertido em segurança, habitações dignas, saúde e educação eficientes. E não somente esse olhar que vive de aparências. Que beneficia a pouquíssimos. 

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