Confesso que já
fui mordido pelo bichinho do Rio. Toda a fama que a cidade possui com suas
belezas naturais, há tempos chamaram-me atenção. Isso deve-se ao fato de tanto me
deparar com o Rio, nas artes que aprecio. Muitos de nossos clássicos literários
possuem narrativas passadas no Rio. Na música então, não faltam expoentes, de
Cartola a Tom Jobim. Esse último recebeu uma linda homenagem, tendo canções
suas interpretadas por Vanessa da Mata. Outra cantora que fez uma excelente
canção em homenagem à cidade foi Paula Toller: Pane de maravilha é o amor
declarado a uma cidade que, de fato, possui muitos encantos. Mas todos os
encantos são capazes de fazer brotar no ser humano uma capacidade de viver pra
construir uma “ Cidade maravilhosa” ?
Parece um despropósito esse meu ângulo
através do qual questiono. Óbvio que uma coisa é a cidade e suas paisagens com
bairros bem construídos que agregam os que realmente vivem numa “cidade
maravilhosa”. Aí vivem os globais, grandes empresários e parte da classe média.
E bem do lado de cada bairro de bacana há uma enorme favela, com tudo o que há
de peculiar nesses espaços. Ou melhor, não há nada que se possa chamar de
maravilhoso. E sim tenebroso. O tráfico, o descaso com moradias dignas para seus
habitantes, entre outros problemas que assolam o Rio de Janeiro. O que faz com
que os privilegiados vivam numa bolha em relação a esse fator de favelamento,
no qual a impressão que se tem é que tudo é “um mar de rosas”. Essa
discrepância parece não interferir na boa convivência entre a elite da Zona Sul
e os periféricos, que em sua maioria, geograficamente, nem estão localizados à
margem da cidade. É uma questão de descaso com os valores humanos mesmo. Tantos
casos trágicos, chacinas, turistas assassinados. E nenhuma medida tomada parece
ser eficaz pra sanar esse emblema de criminalidade que fere o estigma de “Cidade
maravilhosa”.
Os frequentes protestos na cidade, comprovaram
o óbvio: o descontentamento com os problemas que a maioria da população
enfrenta (os manifestantes) e o fator que mencionei no começo: todos os
encantos da cidade não são capazes de trazer para algumas pessoas, um olhar
mais humano (vandalistas). Um olhar que agradecesse ao infinito, ou ao que se
acredita. Por viver num lugar privilegiado por belezas naturais onde muitos
homens souberam adornar com belas construções. Muitos monumentos históricos e
tantos outros aspectos que inspiraram belas canções. Os homens que depredaram o
Leblon, fizeram uso de violência. Essa selvageria é o cúmulo da falta de
respeito com a população, com a cidade, e com o próprio indivíduo que não
reconhece a dignidade da própria vida, ferindo-a, ao lançar mão da violência. O
Rio, realmente deveria ser uma cidade maravilhosa. Essa maravilha bem que
poderia transparecer num olhar das autoridades, voltado para a população das favelas. Um olhar
que deveria ser revertido em segurança, habitações dignas, saúde e educação eficientes.
E não somente esse olhar que vive de aparências. Que beneficia a pouquíssimos.
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