sexta-feira, 2 de março de 2012

O Piauiês


             Às vezes sou tomados por instantes de total nostalgia. Parece-me que vivo mais o passado que o agora. Sensações, odores, palavras, melodias de outrora visitam-me com tal frequencia, que embalam-me de tal maneira que não vejo a menor graça nas coisas do momento presente. As coisas acontecem-me de dentro pra fora. Vivo em total dispersão.
             E sexta-feira, como o ritmo de meu trabalho é mais suave, pus-me a recordar expressões do Piauí. Cujo estado é um dos mais esquecidos do  nosso Brasil. E também um dos mais pobres. Porém muito amado por seus oriundos. E foi assim que relembrando passagens cravadas em minha memória que uma saudade me invadiu. Saudade de comer ata, de subir no pé pegar as atas maduras. E pitomba também. E comer coalhada e bolo de puba. E bolo de goma também.
             Lógico que as guloseimas são só um capítulo a parte de minhas reminiscências piauienses. Lembrei da solidão, na escola eu ficava isolado. Triste infância. Oh dó! Que dó! Eu não era como a maioria dos "mininos" que pegavam uma baladeira e saia matando os passarinhos.  Aí veio a adolescência. Não mudou muito. Via desinteressadamente as pessoas fazendo zuada. Algumas "só querem ser". E como fulano é "infarenta". E eu raramente ficava no meio de um magote de gente. Sentia-me o derradeiro ser da face da terra. Até mangavam de mim. Davam muitas gaitadas.
             Pra muitos o Piauí fica na baixa da égua. Como -se diz por lá. A terra querida, as vezes tenho saudades dos caminhos de terra que andei, de areia no verão e lama no inverno. E nos riachos cheios a gente "tilibungava". Em contrapartida lembrei de minha vó que tinha dor nas "cruz". E meu vô doía o espinhaço. Minha mãe as vezes sentia dor de viado.
             Pois é. Saudades da terrinha. Do cuzcuz com leite; da leitoa assada; Da carne assada pisada  no pilão. E até da malassada. E lógico das pessoas. Até das infarentas. E do forró.  Pode-se tirar o garoto do Interior, mas não o Interior do garoto. 

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