A gente mora no agora- 2017 |
Um dos trabalhos musicais mais
surpreendentes do ano passado é o álbum “A gente mora no agora” do ex-integrante
do Titãs, Paulo Miklos, trata-se de um verdadeiro alento num cenário musical
onde acaba predominando fenômenos do sertanejo (sofrência), funk, sertanejo-universitário entre outros estilos que pouco agregam à memória musical da famigerada
MPB. É fato que Paulo Miklos possui vasta experiência na música, todavia o fato
dele trabalhar um álbum e trazer bons resultados como é o caso desse incensado A
gente mora no agora é de grande relevância em tempos em que os haters blasfemam contra Anita, Pablo Vittar, os milhares de MC,s sem sequer pesquisar sobre a democrática cena musical, resumindo: creem que a MPB está restrita a estes fenômenos e que a glória musical ficou num distante passado, ignoram que nomes como Gal Costa vai muito bem, obrigada, com seu deslumbrante DVD estratosférica ao vivo, por exemplo.
O trunfo de A gente mora no agora é a sua
pluralidade, que por sua vez está atrelada às parcerias que vão de compositores
oitentistas às últimas revelações, ou seja, todas as faixas foram compostas em
parcerias com músicos que vão de Guilherme Arantes a Tim Bernardes, de Arnaldo
Antunes a Silva, além de cantoras da atual safra como a musa original Céu, a
jovem Mallu Magalhães e a rapper Lurdez
da Luz. Esse projeto de Miklos rendeu bons frutos, sua parceria com Nando Reis,
a música “Vou te encontrar” entrou direto na trilha sonora da novela O outro
lado do paraíso, trama que está dando o que falar, como toda novela global das
21 horas, repletas de clichês, mas isso é outra ideia... O fato é que a canção
é deveras radiofônica, é uma composição intimista, triste, mas cheia de
esperança, o oposto de “País elétrico”, feita em parceria com Erasmo Carlos e que denota um teor irônico, satírico e até corrosivo por tratar-se de uma
constatação real de que no Brasil caem muitos raios, perante isso o refrão
entoa:
Raio que parta
O mentiroso
Arrogante e vaidoso
Sociopata
Rei da mentira
Um projeto de
bufão
Um bosta sem
noção
Um nefasto
cidadão
Ao cantarmos esse refrão imediatamente nos vem
à cabeça esses sujeitos que dizem administrar o país, mas só administram em
causa própria, restando a nós, sofridos brasileiros, engolir goela abaixo, segurando na dignidade
pra não explodir. País elétrico é uma canção que nos remete ao grupo Titãs,
pelo teor de crítica social tão característico à rebeldia questionadora do
rock. Outra canção que vale destacar é a despretensiosa “Não posso mais”,
composição de Mallu Magalhães que aqui reforça o mesmo embalo de sua colaboração
para o Estratosférica, da cantora Gal Costa. Cabe lembrar que ambos os trabalhos,
tanto o A gente mora no agora, quanto Estratosférica, possuem o mesmo conceito,
celebram o momento presente, sem esquecer o passado, antes fazem uma ponte com
o futuro: trazem artistas que tiveram seu apogeu e também artistas que podem
ainda, quiçá, criar algo primoroso, já que estão aí, em plena atividade. É o
momento em que se está vivendo que importa celebrar nesses dois álbuns,
doravante muitos dos responsáveis pela realização de obras tão magníficas são
profissionais como : Pupilo, Marcus Preto, Céu, entre outros, desse modo quem
curtiu o álbum da Gal, certamente apreciará o LP ( o fascínio por vinil) do Paulo
Miklos, um disco que não tem como não gostar à primeira ouvida. E mais: não dar vontade pular nenhuma faixa, pois cada uma nos conquista, seja pelo arranjo frenético - o frevo de "deixar de ser alguém"- ou pelo lirismo de "Princípio ativo" e "Eu vou".
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