domingo, 5 de fevereiro de 2017

O lugar à mesa de Solange

 O aclamado álbum, A Seat at The Table.
   Quem está sempre rondando o que acontece no meio musical sabe que a cantora Solange Knowles era sempre designada como “a irmã da Beyoncé”, principalmente após o famigerado episódio do elevador, doravante era a “irmã barraqueira”, a “estranha”, o fato é que os trabalhos musicais de Solange pouco repercutiam, apesar do potencial artístico da moça. Ressalto que o EP True, lançado em 2013 fez um respectivo barulho encabeçado especialmente pela dançante “losing you”, uma faixa grudenta toda calcada numa batida oitentista. Entretanto, apesar das músicas com potencial de hit, do carisma, da beleza e do fashionismo de Solange, a carreira desta parecia não decolar ao passo que a irmã famosa recebia a alcunha de Queen B. com seu reinado a prosperar estratosfericamente.
   Bom, mas se a família Knowles é uma família de artistas, a estrela de Solange uma hora despontaria com uma de 1° grandeza. Com garra e afinco ela dedicou mais de três anos na elaboração do álbum “A Seat At The Table”. Viajou com engenheiros de som, testou inúmeros arranjos musicais, compôs letras para o álbum, fez coreografia com o filho Jules e o resultado disso é um álbum presente em várias listas de “os melhores de 2016” e até mesmo concorre a um grammy pela faixa “Cranes In The Sky”, uma das músicas de maior destaque, figurando até como uma das melhores do ano pela revista Rolling Stones Brasil. A recepção positiva do álbum somada a insana repercussão e euforia dos fãs talvez explique o visível nervosismo na apresentação do Saturday Night Live em novembro; mês depois Solange entregou uma performance excepcional de Rise e Weare, as faixas que abrem o álbum, no The Tonight Show.

   O sucesso de “A Seat At The Table” é inquestionável, pois Solange entregou um trabalho conceitual de grande expressividade, principalmente no quesito composição. Suas letras falam de empoderamento negro com muita propriedade, algumas canções são introduzidas por depoimentos que corroboram com o conceito do álbum que é mostrar que os afro-americanos tem e merecem o seu “lugar à mesa”, ainda mais em tempos retrógrados (vide a xenofobia de Donald Trump). Uma das faixas que reforçam o amor próprio é “Don’t Touch My Hair”, onde Solange entoa poeticamente: “Don’t touch my hair/ When it’s the feelings I wear/ Don’t touch my soul/ When it’s the rhythm I know”. Algumas faixas versam sobre experiências pessoais de Solange, como a melancólica e pulsante “Cranes In The Sky”, faixa que  nos remete a uma doída alegria, talvez por ser tão visceral entoado pelo doce timbre de Solange. “Don’t Wish Me Well” envereda pelo mesmo estilo. Este novo trabalho de Solange não tem apelo pop, entretanto, possui tamanho o potencial que todo amante de música aprecia e necessita para não se distrair com trabalhos descartáveis e sem conceito algum. Não é exagero afirmar que Solange, com esse trabalho, influenciará muitos artistas a serem verdadeiros e compromissados com sua arte.

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