Edição de bolso da Saraiva |
Oscar Wilde sempre nos
remete ao tema beleza e tentações, e claro, a sua obra prima “O retrato de
Dorian Gray”. Certamente, foi uma personalidade muito controversa segundo
consta sua biografia. Entretanto, mesmo analisando seus textos diversos, as
controvérsias acentuam-se cada vez mais. Apesar que soa ingênuo da minha parte querer
separar o autor da novela “O retrato de Dorian Gray” do autor de contos
infantis, escritos para os próprios filhos. Pois mesmo em contos como “O
príncipe feliz” ou “O jovem rei”, entre outros, o apelo descritivo construído com
metáforas designadas por pedras preciosas estão lá, em demasia. A mesma
tentação ocasionada pela beleza, ou melhor, valendo-se de um signo atual, a “ostentação”
era a armadilha visual que Wilde tanto tematizava em seus textos.
Em seu “Histórias de fadas”
não temos o esperado “happy end”, o que leva-me a acreditar que Wilde intencionava
incutir em seus filhos ( e possíveis leitores) os valores reais que salvariam a
alma, ou seja, resistir as tentações, que podem nos cegar de tão belas, é o que
deve-se fazer para não padecermos tão
tragicamente como seus personagens. No conto “O jovem rei” vemos que o belo e
valioso que ornamenta os reis é obtido
através do sofrido trabalho dos pobres, ou melhor, de um trabalho degradante e
arriscado o qual o jovem rei toma conhecimento em seus sonhos. O texto comove
pela narrativa dramática, entretanto com o propósito disciplinador que exalta a
renúncia ao ornamento que enfeita o reinado mas traz um rastro de morte
consigo.
Além das tentações pelas
pedras preciosas e todo o requinte dos abastados do século XIX, outra armadilha
á qual Wilde alude em seu “Histórias de fadas” é o próprio ego inflado de
alguns. O texto “O foguete notável” funciona como um apólogo e narra a estória
de um foguete que se considera superior a todos os outros. Um tom de leveza e
humor perpassa o texto devido aos disparates proferidos pelo foguete que crer
que todos os acontecimentos giram em torno dele. Um “notável” exemplo: os
foguetes serão lançados na ocasião do casamento do príncipe – o foguete notável
enxerga o oposto, é sorte do príncipe casar-se no dia em que ele será lançado.
O cúmulo é o fato deste foguete distorcer os comentários a seu favor, vejamos
um excerto:
- Ora essa! – exclamou. –
Olha só um foguete que não presta! – e atirou-o por cima do muro, em uma vala.
-Foguete que não presta? Que
não presta? –disse ele, enquanto voava pelos ares. – Impossível! Foguete de dar festa, foi isso
que o homem disse. Não presta e dar festa tem quase o mesmo som, e para falar a
verdade são praticamente a mesma coisa- e caiu na lama. (p. 47, 48).
Os contos de “Histórias de
fadas” são muito comoventes. Os textos, apesar de destinados ao público infanto-juvenil,
explanam os vastos caminhos que rondam a alma do homem, os medos, os objetivos
e também a inevitável morte. Que não esperemos princesas que ressuscitam após
um beijo do amado ou que perdem sapatinhos... a matéria-prima de Wilde é a
sociedade moderna e seu homem preso ao presente e refém da sua alma.
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