quinta-feira, 9 de julho de 2015

Morte e vida almodovariana

Penélope Cruz  em cena deVolver, filme almodovariano
Volver é um filme de 2006 do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Nele, há todas as características que se tornaram marcas registradas do superestimado diretor: forte carga dramática, exposição do universo feminino demasiadamente, a temática da morte, além das famigeradas e já cantadas por Calcanhoto, “cores de Almodóvar”.
Em Volver, Penélope Cruz é Raimunda, uma mulher forte que guarda segredos do passado e vive às voltas com uma filha adolescente, um marido desregrado, uma tia idosa com a memória “daquele jeito” e uma irmã separada. Volver significa voltar em língua espanhola, e é quando Raimunda volta ao vilarejo onde nasceu, cujo lugar é caracterizado por habitantes supersticiosos, que acreditam que os falecidos rondam aquela região. Também nessa região, há fortes ventos que espalham incêndios e supostamente, contribuiriam para os desvios psicológicos de alguns habitantes. 
Logo na cena de abertura, vemos como Almodóvar constrói dramas inteligentes, aparentemente corriqueiros, como privilegia diálogos familiares, sempre através do olhar feminino, principalmente o maternal. De início, vemos que a morte é sempre uma razão definidora das atitudes dos vivos. Raimunda, a filha e a irmã Sole, zelam o túmulo que seria da mãe, logo em seguida visitam a tia idosa, é quando Sole, suspeita de outra presença no recinto. Apesar do cunho dramático, o humor, outra constante em Almodóvar, aqui aparece nos efusivos cumprimentos das mulheres e os exagerados beijinhos triplos, que chegam ao cúmulo da comicidade na cena de um velório.
A atuação da musa de Almodóvar, Penélope Cruz, dispensa apresentações,  ao dar vida a forte e bela Raimunda, uma mãe que no desenrolar da fita reconquista o amor da filha e o de sua própria mãe. Tudo num misto de drama e comicidade. E o que é a vida afinal? Almodóvar mais que ninguém sabe, ao lançar mão das situações mais comuns na vida de qualquer família, além de também abordar o social, ou seja, irrompe as casas e os dramas familiares, como vemos na escolha de qual disfarce estrangeiro seria adotado pela mãe de Raimunda e Sole, quando essa sai de sua condição de fantasma e retoma (sem dirigir palavras) o convívio social trabalhando no salão de beleza de Sole.

Trata-se de um dos melhores trabalhos de Almodóvar, a contar pela bonita história que resgata a importância da família, independente de quaisquer erro (s) os laços de sangue (cores de Almodóvar) são pra vida toda. É por amor que Raimunda livra a filha da culpa de um assassinato, além de poupar-lhe da traumática verdade sobre sua paternidade. E é por amor e redenção que sua mãe (Carmem Maura) assume a condição de fantasma para cuidar daqueles a caminho da morte. Aliás, mais como maneira de consertar erros do passado, o que segundo a doutrina espírita, é a razão dos mortos reencarnarem. Aqui, direto de Madri, Raimunda teve de “Volver” a uma cidade do interior, seu passado e seus traumas ressuscitando o que não estava de todo morto. Voltou para descobrir, junto a sua mãe os tortuosos e absurdos segredos do passado. 

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