quarta-feira, 2 de julho de 2014

Que País é Esse?

 San'tanna: um fiel retrato brasileiro em sua prosa.
        A crítica social nunca esteve tão presente na literatura brasileira como agora. Um exemplo máximo dessa afirmação é o livro O Brasil é Bom, de André Sant'anna. Esta obra é composta por vários contos, onde na maioria o leitor se ver diante de uma polifonia discursiva desenfreada. Os acontecimentos dos últimos anos imediatamente vem à tona, quando o narrador dos contos inscreve uma série de simulações irônicas baseadas em vários pontos de vista preconceituosos. E são realmente vários, diversos, cada conto tem o narrador facilmente identificado com os vários perfis dos brasileiros de agora e do porvir.
       Se o título do livro é O brasil é Bom, Sant'anna, numa ironia dilacerante comprova isso em um dos contos especificamente: O Brasil Não é Ruim. E por que não é ruim? As razões são várias:
 "Deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, empresários, sindicalistas, policiais, juízes brasileiros não são criminosos, já que não foram filmados em flagrante recebendo dinheiro, colocando dinheiro na meia, na cueca, na mala-preta. O dinheiro que eles não roubaram na cara de todo mundo, que não foi mostrado na televisão para quem quisesse ver, não era dinheiro público..." (pag. 11)
 "O povo brasileiro não tem orgulho da própria ignorância, não está acometido de um excesso de autoestima..." (pag 12)
Observa-se que a metralhadora verborrágica de Santa'nna, através de um narrador sem nome, utiliza-se de uma palavra de negação: não, para expôr todas as falcatruas políticas e também a falta de dicernimento por uma parcela da população. Aquela que acredita que só porque se é brasileiro consequentemente se é feliz. "Sou brasileiro e não desisto nunca". É o que dizem alguns que nem se quer, tem noção de História do Brasil. Ou caem nas garras de alguma falsa ideologia contentando-se, ou entram no embalo: "Se todos podem, também posso." Ou seja, entrar na onda de consumir qualquer coisa da moda, ao invés de lutar pra garantir direitos básicos. Vale ressaltar, que nesse conto a palavra NÃO aparece sessenta e seis vezes. Isso mesmo, se uma coisa é a não coisa, o Brasil é bom porque ele não é ruim, ora essa!
      O referido conto constitui uma imagem ultra-realista de nossos dias, embora muitos brasileiros vão às ruas protestar por melhorias, é sabido que em meio a um grupo de bem- intencionados, há o dedo de partidos oportunistas almejando tirar vantagem. Ao que parece, a maioria se perde nos meandros da política. Lendo esse texto imediatamente nos vem a mente, as propagandas partidárias mostrando as benfeitorias empregadas e as que estão em andamento. Ou também os partidos se gladiarem: opositores esboçam sorrisos ao mencionarem o que o adversário não fez ou fizeram errado. Se há desorganização, algum político santo vai organizar. Vai. Ah vai. Afinal todos querem o melhor para o povo brasileiro. O que é o melhor? Mais respeito para com a população, que está de saco cheio com toda essa  roubalheira na cara dura! 

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