O romance realista surgiu na segunda
metade do século XIX, e teve como característica principal, uma reação aos ideais do romantismo. Ou seja, ao invés do subjetivismo romântico,
do lirismo, da fantasia dentre outros aspectos do romantismo, produziu-se uma literatura mais próxima da realidade. Para
isso, os realistas focalizavam os fatos tal como eles se apresentavam, despindo
a ficção da fantasia. Deixando de lado as aparências para procurar as
essências, desmistificando as hipocrisias do homem e da sociedade na qual ele
interfere diretamente. Isto é, através dos personagens, abordavam os conflitos
sociais. Seja na burguesia, no proletariado ou no clero, na sociedade urbana e
na sociedade rural e entre ideologias contrárias. Tudo serviu de base para os
romancistas do realismo fazer uma literatura de caráter de denúncia da
sociedade vigente na época.
No romance
realista a linguagem é mais objetiva e mais próxima da fala das personagens em
foco. Sem o tom sublime das obras românticas de outrora. O narrador realista
relata detalhadamente o ambiente (espaço), as ações dos personagens, assim como
suas características, tanto físicas quanto psicológicas. Nas palavras do
escritor português Eça de Queiroz,
“Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje,
o romance estuda-o na sua realidade social”. O romance realista assume um
caráter mais social, visando uma amplitude do conhecimento e das ações e
intenções do homem. Os amores, as conquistas de poder, os laços familiares, a
disputa entre as classes sociais (burguesia, proletariado), tudo foi retratado de maneira objetiva como um
fiel painel do homem e seus interesses levados as últimas consequências.
O
romance “O crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, foi a primeira obra literária desse gênero em
língua portuguesa. Revelou o maior romancista português e chocou a sociedade da
época com sua denúncia da hipocrisia social e religiosa. Nesse romance Eça de
Queiroz aborda detalhadamente , que o
homem é um produto do meio em que ele vive, ou seja, ele sofre as influências
que o rodeiam. E que também age de acordo com o que sua natureza determina, isto é, o homem sucumbe aos seus instintos
naturais. O que é evidenciado nesse romance pelo amor carnal entre o padre
Amaro e Amélia. Essa afirmação é explicitada na fala da personagem “Totó” ao
relatar o que se ouvia quando Amaro e Amélia ficavam a sós: “São como cães”.
Devido a essa característica, “O crime do Padre Amaro” é considerado um romance
de cunho realista-naturalista. O enredo é construído através do cotidiano dos
personagens, onde são expostas todas as
facetas do ser humano, ou seja, a inveja, as paixões, a loucura, as explorações
sociais e etc. Longe das imaginações inatas das obras literárias anteriores a
esse período, e um olhar voltado ao estudo dos fenômenos vivos.
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