quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A envolvente literatura de Chimamanda Ngozi Adichie

Edição da Companhia das letras, 2017
   A literatura de Chimamanda Ngozi Adichie é muito acessível, tanto pela temática, quanto pela simplicidade de sua linguagem, o que não significa que seus textos não mereçam ser agraciados por importantes prêmios literários ou não ter o grande alcance de público leitor. Em “No seu pescoço”, Chimamanda se revela uma contista de mão cheia, pois em alguns textos é evidente a fabulação bem estruturada desse gênero, ou seja, uma estória redonda, na qual a autora se concentra numa situação específica, num cenário designado e com poucas personagens, aspectos que podemos observar no conto “Uma experiência privada”, que aborda a convivência insólita de duas mulheres escondidas num armazém, uma vez que ocorria uma rebelião nas ruas. Estas mulheres, possuíam muitas diferenças culturais: a protagonista era nigeriana, a outra, muçulmana e tais diferenças, não impediram-nas de criar laços de empatia frente ao desalento e temor por qual passavam, mas antes fortaleceram a humanidade entre elas. Outro aspecto reportado nesse conto é a oralidade, sobretudo na fala da muçulmana, aliás, em outros textos dessa coletânea, as personagens vivem às voltas atentas as entonações e expressões proferidas pelos interlocutores, fato que comprova que Chimamanda trabalha a linguagem e não apenas relata as diferenças culturais, sobretudo a dicotomia Nigéria versos EUA, pois há o risco de ficarmos com a primeira impressão que ela nos passa. E isso, Chimamanda não merece, por isso ela nos disse que o ruim dos estereótipos, é que eles são limitados, nos dão apenas um lado da história.
   Os contos que relatam as personagens nigerianas descobrindo como é viver nos EUA, são cheios de humor, Chimamanda descreve com sutileza, ou uma fina ironia as características reprováveis dos americanos, embora não teça memórias ufanistas da Nigéria, seu país de origem. O fato é que o leitor certamente irá recordar as vezes que pisou em lugares estrangeiros ou mesmo se deslocou da roça para viver numa metrópole  e esteve perdido por não saber os modos de comportamento no novo recinto. Um conto que descreve bem essa situação é “Os casamenteiros”, no qual a protagonista nigeriana se casa com um conterrâneo que mora nos EUA há bastante tempo e este responsabiliza-se por introduzir Chinaza, a personagem principal, ao estilo de vida americano. Como ele faz isso? Interpelando Chinaza todas as vezes que ela utiliza expressões de sua terra, pois ela tinha que ser o mais americanizada possível! Há até mesmo uma passagem bem brasileira, principalmente se você, leitor, for do povão e pegue ônibus lotado:
“No ônibus com ar condicionado, ele me mostrou onde colocar as moedas, como apertar o botão na parede para avisar que eu queria descer.”
“Aqui não é que nem na Nigéria, onde a gente grita para o motorista”, disse com desdém, como se tivesse inventado pessoalmente o superior sistema americano.” (p. 187)
Ainda sobre esse conto, a protagonista refere-se a seu par designando -o “meu novo marido”, como a dizer o quanto seu cônjuge aderiu totalmente ao modo de viver dos americanos, ou seja, era outra pessoa, impedindo-a de utilizar expressões de sua terra e sugerindo que ela começasse a se portar como uma americana também:
“Você não entende como as coisas funcionam nesse país. Se você quiser chegar a algum lugar, tem que ser o mais normal possível. Se não for, vai ser largada na beira da estrada. Tem que usar seu nome inglês aqui.” (p. 186)
Os contos de No seu pescoço são um deleite para nós leitores e certamente nos incute a vontade de conhecer mais sobre a obra de Chimamanda Ngozi Adichie. Até a cantora Beyonce já pegou carona no sucesso da escritora, na canção Flawless, Chimamanda discursa em prol do feminismo. Ouvimos e  leiamos Chimamanda, então!


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