Edição da Companhia das letras, 2017 |
A literatura de
Chimamanda Ngozi Adichie é muito acessível, tanto pela temática, quanto pela simplicidade
de sua linguagem, o que não significa que seus textos não mereçam ser
agraciados por importantes prêmios literários ou não ter o grande alcance de
público leitor. Em “No seu pescoço”, Chimamanda se revela uma contista de mão
cheia, pois em alguns textos é evidente a fabulação bem estruturada desse
gênero, ou seja, uma estória redonda, na qual a autora se concentra numa
situação específica, num cenário designado e com poucas personagens, aspectos
que podemos observar no conto “Uma experiência privada”, que aborda a
convivência insólita de duas mulheres escondidas num armazém, uma vez que ocorria
uma rebelião nas ruas. Estas mulheres, possuíam muitas diferenças culturais: a
protagonista era nigeriana, a outra, muçulmana e tais diferenças, não
impediram-nas de criar laços de empatia frente ao desalento e temor por qual
passavam, mas antes fortaleceram a humanidade entre elas. Outro aspecto
reportado nesse conto é a oralidade, sobretudo na fala da muçulmana, aliás, em
outros textos dessa coletânea, as personagens vivem às voltas atentas as
entonações e expressões proferidas pelos interlocutores, fato que comprova que
Chimamanda trabalha a linguagem e não apenas relata as diferenças culturais,
sobretudo a dicotomia Nigéria versos EUA, pois há o risco de ficarmos com a
primeira impressão que ela nos passa. E isso, Chimamanda não merece, por isso
ela nos disse que o ruim dos estereótipos, é que eles são limitados, nos dão
apenas um lado da história.
Os contos que relatam
as personagens nigerianas descobrindo como é viver nos EUA, são cheios de
humor, Chimamanda descreve com sutileza, ou uma fina ironia as características reprováveis
dos americanos, embora não teça memórias ufanistas da Nigéria, seu país de
origem. O fato é que o leitor certamente irá recordar as vezes que pisou em
lugares estrangeiros ou mesmo se deslocou da roça para viver numa metrópole e esteve perdido por não saber os modos de comportamento
no novo recinto. Um conto que descreve bem essa situação é “Os casamenteiros”,
no qual a protagonista nigeriana se casa com um conterrâneo que mora nos EUA há
bastante tempo e este responsabiliza-se por introduzir Chinaza, a personagem principal, ao estilo de
vida americano. Como ele faz isso? Interpelando Chinaza todas as vezes que ela
utiliza expressões de sua terra, pois ela tinha que ser o mais americanizada
possível! Há até mesmo uma passagem bem brasileira, principalmente se você,
leitor, for do povão e pegue ônibus lotado:
“No ônibus com ar
condicionado, ele me mostrou onde colocar as moedas, como apertar o botão na
parede para avisar que eu queria descer.”
“Aqui não é que nem na
Nigéria, onde a gente grita para o motorista”, disse com desdém, como se
tivesse inventado pessoalmente o superior sistema americano.” (p. 187)
Ainda sobre esse
conto, a protagonista refere-se a seu par designando -o “meu novo marido”, como
a dizer o quanto seu cônjuge aderiu totalmente ao modo de viver dos americanos,
ou seja, era outra pessoa, impedindo-a de utilizar expressões de sua terra e
sugerindo que ela começasse a se portar como uma americana também:
“Você não entende
como as coisas funcionam nesse país. Se você quiser chegar a algum lugar, tem
que ser o mais normal possível. Se não for, vai ser largada na beira da
estrada. Tem que usar seu nome inglês aqui.” (p. 186)
Os contos de No seu pescoço são um deleite para
nós leitores e certamente nos incute a vontade de conhecer mais sobre a obra de
Chimamanda Ngozi Adichie. Até a cantora Beyonce já pegou carona no sucesso da
escritora, na canção Flawless, Chimamanda discursa em prol do feminismo. Ouvimos e leiamos Chimamanda, então!
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