Ai, palavras, ai palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
Sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
Tudo se forma e transforma!
Cecília Meireles
Falamos, falais. Falamos mais que tudo.
Somos linguagem. Linguagem verbal e não verbal. Se expresse! Seja você mesmo! Já ordenava Madonna em sua fase mais dominadora. De tanta se expressar de todas as
maneiras hoje tá bilionária. Esta soube e sabe muito bem usar as palavras. Os
vocábulos medo e limite, creio que ela
não conhece. Eis ai uma pessoa
admirável! Ativíssima. E ainda profere uma religiosidade e faz orações a God
antes de entrar no palco e mandar todo mundo se foder. Fico me perguntando como
alguém tão destemida diz-se adepta de
uma fé cristã. Na minha ignorância fé é pra quem não tem em que se agarrar. É
para os desfavorecidos , reféns do capitalismo e suas disparidades. Quem ocupa
o topo da pirâmide e só pelo conjunto de sua obra tem a vida ganha até a quarta
reencarnação, tem mais é que ser prático. Poder é concreto. O sobrenatural é
abstrato, é fruto da imaginação, ou melhor, da falta dela. Só se atribui ao
sobrenatural ou ao divino aquilo que não se pode explicar. Mas aí existem as
palavras, carregadas de significação...
Afirmações, negativas, suposições,
ironias enfim tantas mais tantas maneiras de utilizar as palavras... e, há canções de amor e de escárnio. As de
escárnio nos últimos anos viraram o funk. Trash trash trash. Na verdade nem
chega a ser escárnio porque as do funk são vazias de sentido e são de um
minimalismo bestial. Foi até ofensivo essa comparação. E onde quero chegar com
tanta falação? Nem sou de falar muito. Minha chefe dissera-me: você tem que
falar mais. Você já foi ao fono? Você
trabalha muito na sua. Não é bom viu? E também não é bom no âmbito
sentimental. Mal sabe ela que às vezes
não sei usar as palavras certas quando devo. Ou melhor, acho que sei. Já que
seleciono tanta coisa, ao passo que todo mundo familiariza-se rapidamente com o
mundo e consequentemente com as palavras. Quantas vezes já falei o que não
devia. Magoei pessoas: as palavras saíram tão bruscas que valeram por uma
bofetada. Não tenho culpa se minha maldade latente excedeu nas palavras. E
quando minha estupidez se manifesta as lágrimas descem, ou seja, só quando for
comigo, eu que não tenho orgulho nenhum de ser imperfeito. Tudo ao redor é
imperfeito e há muita cultura inútil, como esse texto.
Bem, mas como eu ia dizendo, usamos
tantas palavras. Palavras é o que existe de mais concreto na terra. E o que não
existe passa a existir porque tem a palavra designadora. Teriam as palavras
mais poder do que quem as profere? Palavras são inerentes aos falantes (daaaaã)
Digo, daqueles que vivem de usar as palavras com intenções de domínios
opressores, depreciativos, que reduzem os receptores a rélis necessitados de um lugar no mundo, mesmo que seja na
condição de dominado. Os charlatães
sabem usar as palavras, os ingênuos só sabem ouvir e viram objetos das palavras
que ouviram. Que o diga a Macabéa de A Hora da Estrela. Esta, apaixonou-se pela
palavra efeméride. E quando foi à cartomante ouviu previsões de um futuro
promissor e acabou atropelada, com toda a glória que é o “privilégio”de ser
atropelada por um Mercedez. E por que
falei no começo em fé? Ah lembrei, é que isso
também é uma questão de palavra. A fé é uma palavra, assim como qualquer
objeto de fé também é só palavra. Quantos dizem: a palavra de Deus. Aliás, Deus
é só uma força de expressão, qualquer pessoa profere: “Deus lhe pague”. “Vá com
Deus”. “Graças a Deus”. As palavras sagradas. E o que são os mantras?
São palavras com significados promissores e libertadores. Eu também creio em palavras. E amo as
palavras, mesmo concordando com a doce Bess do filme Ondas do destino que num
desespero arrepiante, irrompe um sermão religioso e desabafa para o clérigo
hipócrita, machista e opressor algo mais ou menos como: - “ eu não entendo,
como pode-se amar uma palavra? Uma pessoa pode amar outra pessoa, não uma
palavra.” Pois é, as palavras tem um grande poder nas mãos de quem sabe usar.
Seja lá pra qual fim. O fim.
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